Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,Eles passarão.
Eu passarinho!
Há muitos anos, escrevi uns versos e os apresentei para uma antiga amiga chamada Tânia, que dividia comigo as aulas da licenciatura e o prazer da literatura (ela estava se formando em Português e eu em Ciências Sociais). Em resposta, ela declamou o poema a cima feito pelo poeta Mario Quintana. Fiquei fã, desde então, desse poeta do Rio Grande do Sul . Há uns seis anos descobri o músico carioca Lui Coimbra e o seu belo disco "Ouro e Sol", produzido, segundo alguns, no final dos anos 90. Além de músicas de Capiba, Pedro Luís e Sting, Lui Coimbra nos presenteia com músicas de sua própria autoria. Entre estas estão "Astrologia" e "O idiota desta aldeia", sonetos de Quintana que foram musicados por Lui. Seguem os poemas e, junto com eles, um outro, que também gosto muito, "Emergência".
Astrologia
Astrologia
Minha estrela não é de Belém
Aqui parada aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além...
- Meu Deus, o que é que esse menino tem?
Já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
E nos desentendemos muito bem!
E quando tudo parecia a esmo
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo...
Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, em dia
deste velho e encantado labirinto.
O Idiota Dessa Aldeia
Rechinam meus sapatos rua em fora
Tão leve estou que já nem sombra tenho
E há tantos anos e de tão longe venho
Que nem me lembro de mais nada agora
Tinha um surrão todo de pena cheio
Um peso enorme para carregar
Porém as penas, quando o vento veio
Penas que eram, esvoaçaram no ar
Todo de Deus me iluminei então
Que os Doutores Sutis se escandalizem:
"Como é possível sem doutrinação?"
Mas entendem-me o céu e as criancinhas
E ao ver-me assim num poste, as andorinhas
"Olha, é o idiota desta aldeia!", dizem.
Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas tem ritmo
- para que possas profundamente respirar.
quem faz um poema salva um afogado.
******
Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas tem ritmo
- para que possas profundamente respirar.
quem faz um poema salva um afogado.
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Mario Quintana entrou no Labirinto em em 1906 e se libertou dele em 1994 quando, finalmente, foi traído pelo instinto. Sua herança ainda salva muitos afogados, mesmo que o nosso poeta não tenha o mesmo prestígio dado a outros. Alguns Doutores Sutis não concordam e se escadalizam com a simplicidade de alguns poemas. Há quem diga, inclusive, que a obra de outro poeta, Chico Buarque, é apenas a de um letrista, pois seus versos não passam de metáforas a serem decifradas. Nossa! Contudo, Quintana é passarinho e os "Sutis" passarão!
Às vezes me parece que para alguns a poesia surgiu após a semana de arte moderna. Métrica , sonetos, rimas tornaram-se palavrões.
Às vezes me parece que para alguns a poesia surgiu após a semana de arte moderna. Métrica , sonetos, rimas tornaram-se palavrões.
2 comentários:
Eu , ontem, naquele pequeno tempo que parei para falar com vc escola li esse poema na sua camisa e tb adorei. Inclusive tomei a libertdade de copiar ele e colocar no perfil do meu orkut. Muito legal mesmo....
Sempre gosto de passar por aqui
Santa camisa essa hein? kkkk
Também amei o verso quando vi em sua camisa na escola lembra? bjs
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