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domingo, 17 de maio de 2020

EXISTÊNCIA


Não sei e tu não sabes
Se estaremos vivos amanhã
E assim está imposto desde sempre
Desde a primeira inspiração
Até a última suspiro.
Não saber até quando a existência
É a beleza da vida para o que não é pedra
Nem árvore, e não é bicho
Não saber e definitivamente viver.
E tu dizes que este não saber o angustia
Mas se soubéssemos
Se vislumbrássemos o fim
E este fosse eminente
Seríamos o quanto angustiados?
Não saber do fim não é tão diferente
O quanto foi o não saber do início
Antes não havia existência,
Após, também não.
Só existimos entre o antes e o depois
Mas o poeta nos faz pensar o porquê
(Existirmos, a que será que se destina?)
E o porquê é tua angústia.
Existir sem imposições filosóficas
Apenas existir, mas não como pedras
E também não como estrelas
Existir em si mesmo
Apenas como ato de ser
De ser existindo e deixando de ser.
Não temas, meu companheiro desta jornada
Não temas, amiga da existência
Não temas o que já está decidido.
Sim, claro, prorroguemos o tempo de existir
E o façamos com as melodias dos poetas
Com as cores dos pintores
Com as livres reflexões do filósofo
E até, se quiseres, com a suavidade
Com a delicadeza das crenças delicadas
Façamos, enfim, com beleza.
Hoje,
Quando a existência é ameaçada
Hoje,
Quando a última expiração
Se apresenta
Em diversos lares ao mesmo tempo
Hoje,
Quando teu medo do fim bate
Na porta do vizinho, do portão, da sala
Hoje, corra para o quarto e se tranque
Mantenha-se existindo
Mas não tenha medo.
Hoje
(E só o hoje é o tempo que existe)
Exista com ele e o siga até onde puder
Mas sem temor, apenas existindo.
Amanhã? O amanhã não existe
Não percamos tempo com ele.
Respire este hoje que a nós se apresenta
Inspire a beleza do dia
Expire a beleza da noite
Se preferires, faça o inverso
Mas não tema
Inspire todos os sentimentos
Menos o medo
Expire todos os sentidos que há em ti
Menos o medo.
A existência, que seja longa
E que seja plena (liberta de angústias).
Mas se quiseres, troque de calçada
E entre na multidão temerosa e solitária
Que caminha para a morte
Pensando em vencer, na vida, a morte.
Com medo, eles se aglomeram
Com medo, fanatizam
Com medo, buscam ídolos
Com medo, agridem, matam
Tiram a existência.
Se quiseres, troque de calçada
Abrace a morte com medo da morte.
É humano o ato de decidir
Nossa existência impõe
A liberdade da escolha de cada ato.
Tu podes trocar de calçada
Ou permanecer aqui neste abraço
Neste laço que nos une
Aqui onde a existência grita vida
Aqui onde a existência clama a inspiração
Aqui onde a expiração
Não quer ser o último suspiro.
Jorge Willian da Costa Lino
Rio de Janeiro, 4 de maio de 2020 (02:52)