Apresento hoje dois poemas antigos. Foram produzidos nos anos finais da década de 80. Um fala da sociedade a partir de uma crítica socialista ao gélido mundo capitalista (o mundo da produção de mercadorias) e outro brinca de falar do amor. Esta dualidade de temas reflete bem a posição deste blog que no próximo dia
27 estará completando um ano. Compartilho também a imagem ao lado retirado do sítio "educadores em luta". A arte aqui simbolizando a união e a luta dos que querem um mundo mais justo e com mais igualdade. Um mundo onde a principal ação seja produzir alegrias e não apenas mercadorias. Um mundo onde a comunicação ajude a nos libertar e não a produzir mais alienação. Um mundo onde a beleza dos atos não seja efêmera e para poucos. Um mundo que se permita sonhar, desejar e onde as utopias, metas inatingíveis, sejam perseguidas. Onde a liberdade não tenha que ser conquistada e mantida todos os dias, mas um direito. Onde a fraternidade seja o traço de união entre a igualdade e a liberdade. E que os três substantivos se concretizem em nós todos e deixem de ser meras abstrações. Um mundo onde a ciência esteja a serviço de todos e que todos ajam com ciência de que o mundo é para todos. O mundo da riqueza, da liberdade e da justiça para todos no mundo. Que essas utopias possam produzir ações fraternas e que se tornem o credo de todos. E, como disse o poeta russo Maiakovski no poema "O Amor" ("Ressuscita-me"), "que a família se transforme/ e que o pai seja pelo menos o Universo/ e a mãe seja no mínimo a Terra" (vide vídeo no final da postagem com a interpretação de Gal Costa da música que Caetano fez para o poema).

MERCADORIA
Flores
rosa
jasmim
maçã
melancia
a burguesia
a burguesia faz tudo virar mercadorias.
Homem
joão
daniele
carlos
sônia
maria
a burguesia
a burguesia faz tudo virar mercadorias.
Amor
carinho
corpo nu
sexo
gravidez
filho ou cria
a burguesia
a burguesia faz tudo virar mercadorias.
Arte
canção
dança
novela
teatro
poesia
a burguesia
a burguesia faz tudo virar mercadorias.
Pensamento
ciência
religião
filosofia
fé
heresia
a burguesia
a burguesia faz tudo virar mercadorias.
Revoluções
china
cuba
guevara
babeuf
comunismo
anarquia
a burguesia
faz tudo virar mercadorias?
Jorge Willian (16 e 18 de outubro de 1987)
BRINCAR DE COMIDINHA
É tarde
para morrer de amor é tarde
é cedo
para brincar de amor é cedo

vamos, pois, brincar
de papai e mamãe
que não precisa o amor
ser assim tão trágico.
Há um dom quase mágico
quando se brinca
só precisa o amor
apenas ser sentido
como algo mágico
fazendo magias.
Sorria, meu amor, sorria
e mais nada é preciso
vamos brincar
sorria
brincar de João e Maria
de médico no sofá da tia
de fazer comidinha
de pesquisar nossas geografias
e que a vida ou a morte ou o instante
um dia nos separe
e o amor, logo ou breve, sorria
sorria, meu amor, sorria,
o amor é uma magia
a amor, é essa a magia
Jorge Willian (Rio, 05/03/1988)
"O Amor", Com legendas
Um comentário:
"Um mundo onde a comunicação ajude a nos libertar e não a produzir mais alienação."
"faz tudo virar mercadorias?"
Se existe a dúvida, não existe certeza... Se existe o questionamento, existe possibilidade. Ainda acredito nisso. E quero continuar acreditando.
Bons poemas são atemporais, assim como o amor. Nunca cedo, nunca tarde; brincar de ser feliz amando é para qualquer um, a qualquer hora, com qualquer idade.
Flutuar na leveza de um sorriso de amor... Até pensar nisso nos faz mais leves!
Um ano de cultura,
educação,
alegria,
filosofia,
poesia?
Definitivamente,
nem tudo é mercadoria.
Abraço, Jorge!
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