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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SILÊNCIO

Silêncio, vou dormir.
Que nada se mova!
Nem gestos, nem corpos,
Nem ideias de fora,
Se quer o tempo.
Imobilidade total,
Tudo silenciado,
Tudo aquietado,
Tudo parado.
Silêncio, dormirei
E nada deve interromper
O único verbo possível
O companheiro verbo sonhar
E seu único e desejado complemento.
Silêncio!
Sonharei com ela!


Rio, 30/12/2011 (03h e 03m)
Jorge Willian

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

TUDO OUTRA VEZ

estou com saudade
de mim
de você em mim
correndo contigo comigo
ouvindo me ouvindo
me vendo te vendo
brincando de mim
de ti de mim
saudade saudade
de envelhecer em ti
de adolescer em ti
de nascer em mim
de nascer em ti
de ir morrendo em mim
morrendo em ti
de sorrir de mim
comigo sorrir de ti
de chorar comigo
de chorar em mim e de mim
saudade de mim em mim
saudade
não deste que me olha
deste que me rir
que me espelha
este que não sou
mas que responde por mim
saudade de ti de mim
saudade
tudo outra vez
saudade quero
tudo outra vez
quero
outra vez
saudade
saudade
saudade

Jorge Willian  (26/12/2011  2h e 23m)



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MUSEU DE GRANDES NOVIDADES: O PRESENTE

"Bate outra vez com esperança o meu coração
pois já vai [ começando] o verão, emfim
volto ao jardim com a certeza que devo chorar..."



Chega o ano ao fim. Mas como tudo tem seu ciclo, chegaremos a um novo começo. E como tudo se mistura, passado e futuro tornar-se-ão um só, pelo menos na tela da televisão aqui de casa. Mas como não sou o único a assistir a telinha, sei (sabemos) que ligaremos as televisões e assistiremos a mais uma retrospectiva. E como muitas coisas se repetem em nosso mundo, assistiremos, concomitantemente, ao futuro: enchentes no Brasil derrubando morros, barracos e vidas; guerras urbanas entre traficantes e os pseudo-heróis dos bopes da morte; corrupção em São Paulo, no Rio de Janeiro, nas obras públicas, no Planalto, nas operações lei seca, no Brasil quase inteiro...

Assistiremos também às guerras entre nações contando sempre com o velho exército americano torrando mais alguns bilhões de dólares. E o congresso americano continuará negando saúde pública aos seus  cidadãos nacionalistas e ufanistas em nome do liberalismo e da falta de verbas. A   imprensa continuará falando mal dos "chaves", dos "morales" e qualquer outro líder de nações que não adotam o neoliberalismo e antiestatismo. Por outro lado, falará bem de lideranças que estejam defendendo atos não democráticos em países onde o povo sai à luta contra as crises do capitalismo, que afetam sempre os mais pobres. Até porque, para o sistema financeiro o Estado "emprestará" trilhões (só na zona do euro) dizendo combater o desemprego. Assistiremos a mais uma crise do capitalismo e novos libelos proclamarão, no meio de suas acusações, que este sistema social é o único possível.

Eleições, ah claro!, elas também poderão ser vistas e aqui no Brasil teremos os partidos do "sim, senhor Lula!" disputando com os do "não, senhora Dilma!" e ambos os grupos partidários estarão a defender o empresariado que, por sua vez continuará clamando por verbas públicas do BNDES e por diminuição de impostos para suas empresas e para cidadãos (os ricos). Para os mais pobres, que o empresariado também não esquece, a proposta é pelo fim das bolsas famílias e coisas do tipo. Com certeza poderemos assistir a alguns assassinatos de lideranças indígenas e rurais que lutam por terras nesse país de latifundiários, além de emboscadas que ceifarão a vida de lideranças sindicais. Na televisão teremos além das novelas, as mentiras dos arquitetados telejornais que não informam, e sim, deformam nossa inteligência. Veremos também Roberto Carlos cada vez mais piegas e Ivete Sangalo cada vez mais brega (no mau sentido da palavra). Bons nomes da nova MPB não aparecerão para o grande público... Talvez unzinho tenha mas sorte e seja adotado pelo sistema Globo (Som Livre) e vire uma nova Maria Gadu.

Pelo lido, parece que veremos "um museu de grandes novidades", como denunciava o bom Cazuza. Mas nem tudo será repetição, e como precisamos de novidades neste natal e no próximo ano novo, segue o vídeo abaixo.


sábado, 10 de dezembro de 2011

O VÍRUS

Há um vírus transmissível
Em meu cérebro
Se multiplicando ele vira milhões
Se encorpando se materializa
Agita-me febril
E de meu corpo se propaga

Há agora um vírus transmissível
No cérebro teu
Em segundos,  milhões iguais
Se juntarão em ti nesta febre louca
Dominarão teu cérebro, teu corpo
Teu ser, tua voz também a propagar

Há um vírus no ar
Ele devora preconceitos
Morais, científicos e religiosos
E chama-se comunhão
Popularmente liberdade

Jorge Willian
Rio, 10/12/11  15h e25m

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

E ele achava tão frágil a vida

E ele achava tão frágil a vida desde que pensou  certa vez nas borboletas. Tão belas e tão frágeis e tão efêmeras. Cuidou de não deixar a vida cair, para não vê-la em cacos, como as taças de cristais que mãos bêbedas derrubam com alegria. Para não vê-la desbotada, não a expôs ao sol quente dos verões que com seus raios dão cores e também retiram. Com bravura protegeu a vida intacta, sem fraturas, cortes, dores e paixões, que estas quebram mais do que os porretes ou acidentes de aviões. A vida intacta, pois, não sofreu fraturas, não machucou-se, não foi rasgada, não foi cortada, não foi triturada, não foi vivida. Não morreu nenhum dia e perdeu os brilhos do sol.

Jorge Willian
Rio, 05/12/2011 (13h e 47m)

DO AMOR


invisível
indizívelincabível
impenetrávelincontrolável
imprevisívelindomesticávelincomensurável
incondicionadoimperceptívelirresponsável
irracionalizável
insignificável
que troço é esse aqui dentro?



rio, 05/12/2011
jorge willian

DEPENDE...

             Segundo Kant, não percebemos as coisas como elas realmente são. As coisa em si são imperceptíveis aos sentidos humanos. Assim sendo, radicalizando o filósofo que descordaria desta conclusão, meu cérebro (e o teu) delira dentro das possibilidades que pode fazer com as coisas que percebe. Eis, então, um pensamento pós-moderno.

Verde intenso, 
marrom duro 
e o olhar vidrado.


De fundo 
um azul terno 
e o branco algodão.


Aqui o olho e seu mel
neurônios o conectando
à máquina de dar sentido.


Mas dentro, tudo fosco,
cores pardas,
tons pastéis.


E a máquina dos sentidos
escolhe das cores os tons:
brilho? ofuscante? 


Depende...
depende...
depende...

Jorge Willian
Rio, 05/12/2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

E O SOL SE PÕE (Mais Uma crise no Capitalismo)

O sol se põe na Europa
a noite que surge
irmã da americana
escurece a liberdade
e já não podemos pensar
falar já não podemos.

O medo cresce
as grades surgem.

O sol se põe na casa do Tio San
a noite que surge
irmã da  européia
sufoca os gritos em Wall Street
e já não se podemos sonhar o sonho.

Os muros sobem
as grades crescem
e o silêncio a tudo impõe silêncio.

Os donos da noite
invocarão deuses 
cantarão hinos
hastearão bandeiras
produzirão mortes, muitas.

E os jovens outra vez
marcharão...
mas para onde mesmo?
Ao encontro do sol?
Ou abraçados pela noite?

   (Jorge Willian da Costa Lino)

  Rio,03/12/2011   0h e 13m