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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Luta de Classes Na Grécia Hoje: É O Velho Capitalismo

"Lutar/ Quando é fácil ceder/ Vencer o inimigo invencível/ Negar quando a regra é vender." (Chico Buarque)

Liguei hoje à noite a televisão, pois queria saber o que o parlamento grego tinha decidido na votação que está inflamando ainda mais o povo grego. Liguei para ver o que os telejornais tinham a dizer para tentar nos formar (não informar, visto que não é esta a função das televisões), ou seja, para tentar nos convencer de que suas opiniões são ou as únicas ou as verdadeiras. Na Globo News ouvi dizer que ocorrera a aprovação e que diversas pessoas "violentas" (palavra da correspondente do sistema Globo) se recusavam a aceitar a decisão. Disse a repórter: "A polícia está lançando muita bomba de efeito moral... é a única maneira que ela vê para conter a ação dessas pessoas violentas.".

Há de se perguntar: O que é a violência? De onde surge? Quem a produz? É do dramaturgo alemão Bertolt Brecht uma frase famosa que nos ajuda a repensar esta questão. Disse ele: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem." Poderíamos perguntar a tal repórter quem começou a violência na Grécia: O rio que tudo arrasta ("essas pessoas violentas" que protestavam contra a possibilidade de ficarem sem emprego e, portanto, sem ter a sua sobrevivência assegurada) ou as margens que o comprimem (a violência capitalista que produziu os FMIs, insegurança financeira, Estados polícias...)? É bem possível que a resposta já esteja na própria fala da repórter e nas interpretações dadas pela empresa para a qual trabalha. Qualquer análise simples de sua fala deixa bem claro qual é a sua posição. O seu ponto de vista é o da polícia, isto é, da parte repressora do Estado grego. Ou não seria isto que quer dizer a frase "é a única maneira que ela (a polícia) vê para conter as ações dessas pessoas"? É claro que colocar um ponto de vista sem colocar o outro já é ser tendencioso, ainda mais quando se usa o adjetivo "violentas" para qualificar as pessoas que não concordam com o ponto de vista apresentado.

Qualquer leitura de qualquer jornaleco nos informa que na Grécia está previsto demissões, cortes de gastos públicos, aumentos de impostos e privatizações. Tudo isto para receber uma parcela de 12 bilhões de euros como ajuda "oferecida" pelo FMI e pela União Européia, mas que em troca exigem um corte de despesas para se poupar 28 bilhões e fazer reformas na Grécia. Na primeira rodada de ajuda do ano passado, a população grega viu o seu governo cortar em 10% o salário de 800.000 funcionários públicos. Isto tudo provocou reações (como perguntava o velho rock da banda Titãs: "Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?") que levaram o povo grego a realizar uma radicalizada greve geral de 48 horas. A greve  e os demais protestos partem do conhecimento de que os trabalhadores estão pagando a conta e que, aprovada a proposta do Parlamento Europeu na Grécia, terão que pagar muito mais. Só este ano o Estado grego pretende aumentar a arrecadação de imposto em 2.02 bilhões de euros (o que é muito para o tamanho da economia grega) e no próximo ano o aumento será de 3.68 bilhões de euros. Além disso, o governo fará um drástico corte de despesas nos chamados benefícios sociais. Só a saúde perderá 310 milhões de euros. Além disso, estão impondo ao povo grego a velha receita contra a crise liberal: mais liberalismo com a venda do patrimônio público para alguns empresários, ou seja, as conhecidas privatizações do receituário liberal do velho século XVIII. Primeiro o liberalismo fala em poder absoluto do mercado (a iniciativa privada- dos capitalistas, é claro- deveria agir livremente, pois a mão invisível do mercado conduziria ao bem estar), depois , quando vem a crise, a proposta é vender o patrimônio público a preço de banana e fazer a classe trabalhadora pagar o pato.

Como se percebe, não dá para compartilhar do ponto de vista da referida jornalista, até porque, como já disse, o seu ponto de vista é o dos repressores e do Estado capitalista. O ponto de vista deste blog só pode ser outro. Fico do lado das águas do rio. Elas caminham para o seu destino, por mais que as margens tentem reprimi-las. Como querer a passividade de um povo que vê seu destino ser vendido por parlamentares. Fala-se em governabilidade no ideário neoliberal- começamos a ouvir isto no Brasil desde o governo de FHC-, mas o que é a governabilidade nada mais é do que uma categoria (falsa ideologia mas que produz ações concretas) criada na sociedade capitalista favorecendo a meia dúzia de empresários multinacionais e prejudicando quase a população toda. Fala-se em responsabilidade do Estado nacional e deixa uma nação a mercê de um estado submisso aos interesse estrangeiros. O povo grego vai pagar a conta. Assim como o povo espanhol, o português, o francês... Até porque a classe trabalhadora precisa se reorganizar. Há quase vinte anos atrás caia a União Soviética e o seu sistema político ditatorial. No entanto, ela era a prova viva de que os trabalhadores podem enfrentar e derrotar este sistema caótico que vê no deus-mercado o seu guia e desperdiça as vidas das pessoas. O mesmo sistema que hoje põe em risco a vida no planeta e que vive produzindo guerras como forma de destruir um contingente de pessoas que estariam fora do mercado.

O velho capitalismo está ficando senil. Mas se quer imortal. Anda por aí como um morto-vivo sugando o sangue, os músculos e a alma dos trabalhadores. Devora, o morto-vivo, inclusive a esperança de dias melhores e muitos passam a se conformar com o destino dado pelo deus-mercado. É uma nova forma de conformismo. A igreja medieval produziu o conformismo cristão pregando que se deveria aceitar o destino que teria sido dado por deus. O capitalismo cria uma forma de conformismo mercadológico e democrático. Prega ele que devemos aceitar o destino que o deus-mercado e a santa-democracia estão traçando para nós. Se aceitarmos sofrer (desemprego, fome) um pouco agora encontraremos o céu (seus shoppings) do capitalismo para desfrutarmos. Como diz a velha canção: "pecado, rifa e revista/ o pobre paga é a vista/ a felicidade, o conforto, a alegria e a sorte/ vendeu fiado pra deus / vai receber depois da morte".

O velho capitalismo ainda deve permanecer sugando corpos e almas durante muito tempo. Não porque o seu Estado carcomido dê conta das contradições que este sistema produz. Mas o fato é que a classe trabalhadora precisa retomar suas lutas (o que até certo ponto se tem feito), mas para isso ela precisará produzir novas lideranças, novos intelectuais orgânicos (na linguagem do marxista italiano Gramsci). Sindicatos e partidos políticos, com certeza, ainda são importantes. Mas é preciso se perceber que a esquerda conciliadora (que diz defender os trabalhadores, mas que de fato está a defender os interesses patronais) é um grande empecilho para o desenvolvimento de uma consciência crítica e combativa. A esquerda conciliadora acaba confundindo os trabalhadores. Ela é eleitoreira e mais palatável, por isso recebe votos e em alguns lugares conquista o governo. Aí começa o transformismo (conceito usado por Gramsci para descrever a esquerda que se transformava em direita) e o seu governo acaba também defendendo o empresariado. É isto que vimos , por exemplo, no Brasil de Lula e nas sua política de defesa das grandes montadoras de carros. É o que continuamos a ver no governo de Dilma e de seus em emprétimos bilionários  para as grandes empresas.

A classe trabalhadora talvez consiga gestar bons líderes em um futuro próximo. A luta poderá forjá-los. Por enquanto veremos lutas pontuais contra ditaduras e contra arrochos salariais impostos pelo empresariado mundial. Parece confuso o que estamos assistindo no mundo. Mas estamos diante da velha luta de classes tão bem trabalhada no velho Manifesto Comunista de Marx e Engels. Desde o fim do socialismo real na velha União Soviética o empresariado mundial vem retirando direitos sociais e trabalhistas da classe trabalhadora no mundo. O capital avança sobre as riquezas criadas pela natureza e pelo ser humano. Mas ele não faz isto sem resistência dos explorados. É o que acabamos de ver na Grécia e veremos mais adiante em outros países.
Fevereiro de 2013, e ainda a miséria capitalista na Grécia.
 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

QUEM VIVER CHORARÁ (EU CANTO)

O conforto da cama não foi suficiente para que eu não me levantasse e me pusesse a escrever. Nem mesmo o aconchego da pele macia da amada dormindo me manteve na cama.  Pareço que vou implodir se não encontrar uma válvula de escape para esse turbilhão de sentimentos que a nostalgia me trouxe. E olha que ela só surgiu porque resolvi procurar uma música no You Tube. Não  encontrei a que eu queria inicialmente, mas encontrei algumas canções de um disco maravilhoso gravado em agosto de 1978: "Quem Viver Chorará" ou "Eu Canto". O disco tem realmente dois títulos. Na capa é "Eu Canto", primeiro verso do poema "Motivo" de Cecília Meirelles e que ganhara uma bela  melodia. Mas o disco é também conhecido pelo título de sua contracapa: "Quem Viver Chorará", que também nomeia a única música instrumental do disco, um chorinho imperdível, mas que o amigo só encontrará  na internet na apresentação feita por Angelo Santedicola (ver último vídeo desta postagem) . Em quem viver Chorará o músico nordestino mantém uma dose de experimentalismo já apresentado em outros discos.
  
Diversas gravações deste disco de 1978 são memoráveis. A parte instrumental é maravilhosa não só em "Quem Viver Chorará". Há diversos outros solos instrumentais: de guitarra, de cavaquinho, etc.  Os arranjos e regência são do próprio cantor que, também como diretor musical, selecionou instrumentistas de primeira linha: Robertinho de Recife, Ife, Chico Batera, Dino, Manassés, Ozias e outros. Além disso, as vozes (no plural mesmo) do cantor valorizam as músicas lhes dando interpretações mais contundentes das letras e das melodias. Nessas interpretações com uma voz sobre a outra, faz-se (re)gravações definitivas e dando novos estilos às gravações originais. É o caso, por exemplo, de "As Rosas Não Falam" que Cartola considerou a melhor versão de sua música, mas o mundo do samba não gostou, pois nesta regravação a canção deixa de ser um samba (como o cantor já fizera com "Sinal Fechado" de Paulinho da Viola, mas que não conseguira um resultado tão bom). Outro bom exemplo de mudança de estilo imposta no disco acontece na música "Acalanto para Um Punhal" que ganha um toque cigano com a inclusão de uma guitarra  flamenca tocada pelo cantor e por Pedro Soler. A música "Jura Secreta" de Sueli Costa e Abel Silva que fora antes gravada por Simone passa também por mudanças que a deixam muito mais contundente. A sobreposição de vozes e o instrumental  fazem com que a bela canção pareça ter sido gravada pela primeira vez.

Em "Motivo" é acrescentado o "vocalise" de Amelinha, cantora até então desconhecida. Diz a poesia de Cecília Meirelles: "Eu sei que canto e a canção é tudo/ Tem sangue eterno a asa ritmada/ E um dia eu sei que estarei mudo/ mais nada". E olha que a poeta  se dizia, na mesma poesia, ser irmã das coisas fugidias, e que não sabia se permaneceria ou se se desfazeria. Mas hoje, ouvindo estas músicas, parecem mesmo que são eternas as asas ritmadas. Além disso, a canção me fez conhecer a poeta Cecília, a mesma que já tinha versos seus musicados na  bela canção "Canteiros". O músico responsável por "Quem Viver Chorará" tem o belo hábito de musicar poetas: além de Cecília, ele deu asas ritmadas a Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, Mario de Andrade e outros. No entanto, em  Canteiros o músico não deu os devidos créditos à poeta que ele adaptara sendo, portanto, acusado de plágio. Mas as asas ritmadas são eternas. Ainda hoje canto no banheiro e nas caminhadas pelas ruas da cidade estas canções. As vozes, a poesia, os instrumentos se eternizaram dentro de mim.

O disco tem outras belas canções (Pelo Vinho e Pelo Pão, Cigano) e a que ficou mais famosa e deu reconhecimento ao cantor foi "Revelação". A pequena letra nos fala do sentimento recalcado ("Sentimento ilhado/ morto, amordaçado") que quando parece esquecido sempre retorna ("volta a incomodar"). O solo de Robertinho de Recife na guitarra é imperdível. A música foi o primeiro sucesso popular na voz agreste do cantor cearense. Seu sucesso só foi superado mais tarde pela  música "Noturno", mais conhecida pelo grande público pelo nome "Coração Alado" (do  disco Beleza, também memorável) que foi tema de abertura de uma novela global com o mesmo nome. "Beleza", "Quem Viver Chorará" e "Traduzir-se" são, na minha opinião, os três grandes momentos do cantor, músico e compositor Raimundo Fagner. Três obras-primas da nossa vasta e rica MPB. Há quem critique, e com certa razão, os caminhos musicais tomado pelo artista posteriormente, mas estes três discos são fundamentais para a MPB, principalmente se lembrarmos que na época reinava por aqui as discoteques e suas músicas de pouca inspirações. Fagner, Ednardo, Belchior, Alceu, Zé Ramalho da Paraíba, Xanguai, Geraldo Azevedo, Elomar e outros nos mostraram o quanto era rica a música moderna do nordeste.

Seguem alguns vídeos retirados do You Tube com interpretações de nosso cearense Raimundo:

Revelação

Motivos

Apresentação do Disco de 1978 por Angelo Santedicola

segunda-feira, 20 de junho de 2011

AOS MESTRES, COM CARINHO (ESPECIALMENTE À MERCEDES)

A EDUCAÇÃO PÚBLICA  ESTÁ EM GREVE... OUTRA VEZ
 "Não pense que a cabeça aguenta se você parar/(...)/ Tente/ E não diga que a vitória está perdida/ Se é de batalhas que se vive a vida/ Tente outra vez" (Seixas, Motta e Coelho)

Esta postagem expressa um pouco do sentimento que muitos sentem em relação ao descaso de nossa sociedade com a Educação Pública. É um sentimento ressentido, um ressentimento pelo desprezo que a sociedade quase como um todo demonstra pela criação de nossas crianças e jovens e por aqueles que tem a função e compromisso de trabalhar diretamente com o ato de educar.

Há pouco tempo todos vimos a mobilização justa da sociedade em prol das reivindicações dos bombeiros. Fitas vermelhas se espalharam pela cidade. Uma delas carrego pendurada em minha mochila. Creio que se a metade deste apoio fosse dada às diversas mobilizações realizadas pelos profissionais da educação nos últimos trinta e dois  anos, a Educação Pública do Rio de Janeiro (cidades e Estado) não teria perdido tanto em qualidade como constatamos hoje. Ainda não ficou pior porque os seus profissionais insistem na defesa de suas vocações. Mas esta não é um sacerdócio, é uma profissão que precisa e deveria ser muito bem remunerada.

Em 1979 era eu aluno de uma escola municipal da cidade do Rio de Janeiro e descobri que não era apenas os metalúrgicos de São Paulo que sofriam a exploração capitalista e a dominação de uma ditadura que já caducava (embora ache eu que toda ditadura já nasça caduca). Os professores também sofriam. Aqui no Rio de Janeiro, na velha Escola Muniucipal Pará, um grupo de professores participava bravamente da greve da categoria dos educadores. Lembro ainda hoje com muito carinho da jovem professora de Língua Portuguesa, protestante tanto na religião quanto em sua bravura, mas que no final da greve estava ressentida com a falta de apoio da sociedade e com alguns colegas que se acovardaram. Esta greve teve até algumas conquistas que agradaram os profissionais da época. Mas em mim, o que marcou até hoje foi  perceber que aqueles que me davam aulas eram como os demais trabalhadores e não uma casta superior e intocável. Ser professor e ser parte da classe trabalhadora deixou de ser uma contradição para mim. Pelo contrário, passou a ser um exemplo de boa profissão... E eu que, ainda jovem, pensava que lutar politicamente era coisa de estudantes iranianos e de homens barbudos das montadores de carros de São Paulo.  A jovem professora, a única a falar sobre a greve quando esta findou, marcou ainda mais o meu imaginário. Ela  me daria ainda naquele ano duas outras boas lições de cidadania: a defesa das mulheres contra o machismo da linguagem usada por mim e o respeito à cultura popular ao "dar doce" mesmo sendo protestante (explicou-me que achava bonito as crianças correndo atrás dos doces e que só tinha o cuidado de não comprar saquinhos de doces com imagens católicas).

Os professores entram jovens em suas profissões, passam anos cuidando de crianças e outros jovens. Amadurecem e os cabelos branqueiam (mesmos com as tinturas disfarçando a marca do tempo na cabeça de alguns mestres). As salas de aulas são durante anos a maior parte do mundo dos educadores. Mesmo na sala de suas casas e nos seus quartos, a escola se faz presente: preparação de aulas, correções, preocupações com o menino ou menina que não aprende ou cujo comportamento precisa ser retrabalhado... Tudo isso e muito mais faz da profissão do professor algo especial, uma boa profissão... E, além disso, cada vez mais os professores são atacados pelos governos de plantão. E pais. E estudantes. É redução dos direitos à aposentadoria, é congelamento salarial em um mundo de inflações cada vez maiores (principalmente nas cestas de alimentos). É a tentativa de desqualificar o saber de quem está na sala de aula através de interventores pedagógicos. É um diretor autoritário não eleito por ninguém dizendo que o seu cargo é de confiança (do governo e não da sociedade). É é a falta de vale transporte ou de alimentos. É um turbilhão de propostas pedagógicas misturadas e um outro turbilhão de projetos impostos. É o caveirão adentrando as favelas e pondo em risco alunos e profissionais.   É a sociedade dizendo com o seu descaso: "bem feito! quem mandou querer ser professor..." É um inumerável tipo de questões fazendo com que a saúde mental dos professores passe a ser um dos maiores problemas da profissão (a síndrome de Burnet, no caso dos professores, ataca muito mais o psicológico do que o físico). Resumindo: é uma boa profissão para a sociedade, mas bastante maltratada.


O interessante, porém, é que os mestres continuam a nos dar lições com as suas lutas. Hoje a jovem professora Mercedes deve estar com alguns cabelos brancos e já não sei se ainda leciona, mas este seu aluno ainda traz consigo um pouco das aulas de português (os erros aqui presente não tiram os seus méritos) e muito de seus exemplos, principalmente da boa conjugação dos verbos questionar e lutar no presente do indicativo e no futuro.

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O vídeo abaixo retrata um pouco da questão que todos já conhecemos




Tente Outra Vez
( Raul Seixas / Marcelo Motta / Paulo Coelho)

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...

Beba! (Beba!)
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!...

Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
Bailando no ar

Queira! (Queira!)
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!

Tente! (Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!...

terça-feira, 14 de junho de 2011

A PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO TENTAR RETIRAR DIREITOS DOS FUNCIONÁRIOS

É sabido por todos que desde o fim do que se chamava de socialismo real na antiga URSS, as classes empresariais e governos dominados por elas tentam retirar direitos trabalhistas conquistados pelos trabalhadores depois de muitas lutas e de muito sangue derramados. Isto ocorre em todo mundo, como podemos ver na Espanha e na Grécia. O Brasil não faz diferente e os trabalhadores sofremos diariamente ataques contra o que conquistamos no decorrer do século XX. Nem sempre podemos ver isto acontecendo nos jornais: a mídia capitalista só noticia o que ela quer, mesmo que o assunto seja de interesse de todos. Neste exato momento, os trabalhadores da prefeitura do Rio de Janeiro correm o risco de perderem direitos relativos à aposentadoria. A resposta deve ser dada por todos os trabalhadores pois a reforma da previdência de Eduardo Paes é uma das séries de reformas previdenciárias que avassalarão o Brasil. Não é apenas uma luta corporativa, é a velha luta de classes impulsionada pelos grandes capitalistas de olho nos orçamentos públicos e que acham que o Estado deve investir (em suas empresas) e não gastar com o bem estar dos trabalhadores que pagam durante anos para terem direito a uma aposentadoria que já é ruim e que  ficará pior. À luta, amigos, é chegado a hora de mais uma batalha pelo futuro pois se dependermos dos representantes do Estado e do empresariado, retornaremos à condição de escravos... e morreremos trabalhando, esmolando ou nas filas dos bolsas famílias ou coisa do tipo.
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A prefeitura enviou para CMRJ na última quinta-feira, dia 09/06, para ser apreciado e votado em regime de urgência, o PROJETO DE LEI Nº 1005/2011, que DISPÕE SOBRE O PLANO DE CAPITALIZAÇÃO DO FUNPREVI E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

Este é o projeto que o prefeito prometeu apresentar como "solução" para sanar o déficit do Previrio e, a partir de sua aprovação, votar tb o PLC 041 que modifica o regime de previdência dos servidores municipais, extinguindo conquistas como a paridade e a integralidade
Os dois projetos podem ser votados a qualquer momento.
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quinta-feira, 9 de junho de 2011

ESTAMPAS EUCALOL: QUEIXA (Para Amanda)

Na início do século XX, entre 1926 e 1957, fabricava-se no Brasil os sabonetes Eucalol. Até 1930 houve uma certa rejeição do público aos sabonetes, talvez pela novidade da cor verde já que era feito à base de eucalipto. Até então, sabonetes que aqui eram fabricados tinham cor branca ou rosa. 

A partir de 1930 os sabonetes Eucalol  caíram no gosto popular  devido a uma campanha de publicidade que era uma novidade na época. Os irmãos Stern, proprietários da Perfumaria Myrta que fabricava os sabonetes, lembraram das "estampas  Liebig que tanto sucesso faziam na Europa e resolveram lançar as ESTAMPAS EUCALOL, convidando o público a colecioná-las com um anúncio publicado no suplemento do jornal "A Noite" em 11 de junho de 1930" (1) Os sabonetes passaram a trazer no interior de suas caixas estampas com imagens de temas variados, entre eles das mitologias (ou lendas) europeias e brasileiras, para incentivar o colecionismo. As estampas chegaram até mesmo a serem usadas em escolas como material didático, principalmente as séries de estampas que tinham como título História do Brasil e Lendas do Brasil.

Mais tarde a fábrica foi comprada pela multinacional Gessy Lever que passaram a produzir as estampas Gessy que retratavam astros e estrelas de Hollywood. O imaginário infantil, que antes  se deleitava com as mitologias/lendas e com as viagens que isto permitia, saiu perdendo para o mundo das imagens de estrelas do cinema e da televisão. Com o mundo da televisão, o imaginar começou a perder espaços para o visualizar. A imaginação que produz imagens estimulada pelo exterior perdeu espaço para as imagens prontas e produzidas por terceiros: imagens criadas pela mente substituídas por imagens prontas nas telinhas dos televisores. Nossa infância perdeu um pouco do delírio e ficamos paralisados pelos raios paralisantes captados pelas antenas e produzidos não se sabe onde. O romantismo também perdeu um pouco: novelas foram substituídas por telenovelas. As primeiras escritas para serem lidas (nos livros). Depois interpretadas nas rádios. De ambas as formas produzíamos imaginações. As telenovelas, não. Muito mais imagens prontas, restando pouco para imaginarmos. A não ser, o próximo capítulo, mas que virá pronto com suas histórias e imagens. O leitor é mais atuante (imaginante, imaginador) do que o telespectador. Este, passivamente, assiste, vê imagens. Querem um mundo passivo, posto que este não se queixa, aceita tudo como dado e acabado. A imaginação é menos domável, por isso mais livre para queixar-se, reclamar do que a incomoda. Querem um mundo cativo, a imaginação se queixa pois quer um mundo livre.

Em homenagem aos delírios infantis estimulados pelas extintas estampas do sabonete eucalol, o poeta Hélio Contreiras criou a música "Estampas Eucalol". A bela canção deveria ser mais conhecida pelo público brasileiro. Ela possui diversas gravações e nos remete à mitologia e ao sabonete com suas estampas. Mas o grande público a desconhece. Aproveito o espaço do blog para divulgar a canção e o grande intérprete e compositor Xangai. Aproveito e posto junto o poema "Queixa", que originou esta postagem, posto que fora feito para Amanda, a "minha professora", que sabe que eu "toreava o Minotauro" e que "mergulho no oceano abissal" e que ainda "luto contra os dragões", mas que  subo "o monte Olimpo" com estes desejos que tenho de um "Ícaro" que não foge do sol.
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(1) in  Samuel Gorberg : "O que são estampas eucalol" (Blog "Cultura e Conhecimento)
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Estampas Eucalol  (Hélio Contreiras)
Intérprete: Xangai

Montado no meu cavalo
Libertava prometeu
Toureava o Minotauro
Era amigo de Teseu
Viajava o mundo inteiro
Nas estampas eucalol
A sombra de um abacateiro
Ícaro fugia do sol.

Subia o monte Olimpo
Ribanceira lá do quintal
Mergulhava até Netuno
No oceano abissal
São Jorge ia prá lua
Lutar contra o dragão
São Jorge quase morria
Mas eu lhe dava a mão
E voltava trazendo a moça
Com quem ia me casar
Era minha professora
Que roubei do Rei Lear.


QUEIXA (Jorge Willian)
Quando te deitas
e teus lábios não me beijam
martírio:
meu corpo todo se queixa
onde o delírio?
onde o êxtase?
onde minha gueixa?

Rio, 26 de maio de 2011