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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DAS PEDRAS

São tristes as janelas
que permanecem barreiras

Na janela os pingos soam
e descem tristes
o vento bate
e travado volta
o olhar transpassa
mas retorna fosco
a pedra não
ela ultrapassa a fronteira
dissolve o entrave
destrói o estorvo
sonoriza sua passagem
atinge seu desejo
estilhaça o vidro.

Há pedras, porém
entristecidas no caminho
não se movem, não voam
seus desejos calam
não conhecem as janelas intactas
que gritam de emoção e de alegria
quando espatifadas
quando cacos no chão
quando tornam-se cortantes
quando irmãs de pedras que quebram
quando amantes de pedras vivas.

Janelas odeiam pedras mansas.


Rio, 23/11/11 3h e 08m
Jorge Willian

sábado, 12 de novembro de 2011

CARLOTA, ROSINHA E EDNARDO

Carlota e Rosinha
O amarelo sentiu-se cheiro
desses que as mangas tem
e o cheiro sentiu-se  doce
sendo manga amarelenta
tipo de cor saborosa
que só os dedos sentem.



Lambuzar-se de cheiro
de cor
de textura
de sabor
de manga
infinitamente, carlotinha, enquanto dure
espadamente, rosa, enquanto eu durar.


   (Para Amanda rosa carlotinha)
Jorge Willian, Rio, 12/11/11  (4h e 27m)
          Abaixo segue uma das pérolas da música brasileira. Letra, música e interpretação maravilhosas. O cearense Ednardo, compositor de importantes canções dos anos 70 e início dos anos 80, conseguiu uma bela inspiração para falar da volúpia e da beleza feminina  usando metaforicamente  a delícia e a beleza da fruta que possui mais de mil e seiscentas variedades espalhadas pelo mundo.  E cada fruta em particular é um arranjo de sabor, testura, forma e beleza. Vale conferir abaixo a canção e pesquisar o repertório do artista.
















  A  Manga  Rosa  
A manga rosa, Maria Rosa
Rosa Maria Joana
Peitos gostosos, rosados doces 
Rosados doces mama, mama, mamãe
Teu sumo escorre da minha boca
Entre aberta a porta por onde entra e por onde sai
Por onde entra e sai o mundo, mundo
Balança a fronde farta mangueira
E mata a fome morta a fome
Ou mata imensa mata imensa massa florados cachos
De verde amarelo maduro fruto
Que pro nosso gozo vem,        (uivem?)
Amem, amem, amem...
Mamem, mamem,mamem...
Amém, amém,amém.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O DINHEIRO E A ALIENAÇÃO

Sérgio Sampaio, Pink Floyd, Lenine, Zeca Baleiro e Marx. O que há de comum entre eles? O dinheiro e sua relação com a alienação pode ser uma das respostas. Todos, de alguma maneira, trataram do tema de forma crítica. Todos usaram o verbo para falar da verba, do capital, do cifrão, da mufufa, do metal, do dinheiro. Claro que não foram só eles os que andaram "brincando" de dizer coisas sérias sobre o assunto. Até mesmo Jesus Cristo criticou com seus discursos teológicos a alienação imposta pelo vil metal. Chegou mesmo a dizer que este era um dos dois senhores  e que não se poderia servir a ele e ao mesmo tempo a Deus. Marx, em sua pobreza financeira e com o seu verbo meio filosófico e meio poético, chamou de "prostituta universal" o objeto de desejo mais sagrado para os bancos, as indústrias, os comerciantes, os famélicos e os líderes de alguns partidos e  igrejas. Em alguns seus textos,  Marx  faz, como demonstra o texto citado abaixo, críticas ao capitalismo se utilizando de textos bíblico (1). A utilização por Marx do texto de Mateus demonstra que o filósofo não compartilhava do cientificismo como dizem alguns de seus críticos universitários que ou não souberam lê-lo ou usam de má fé em seus comentários.

O dinheiro, essa mercadoria especial aceita e desejada quase que universalmente (daí a prostituta universal)  é sem valor de uso real, posto que só serve para a troca. Ele é a uma das condições atuais da alienação que vivemos. É o desejo voltado para o dinheiro que possibilita que tudo seja visto como mercadoria, que tudo seja um mero negócio. Tanto faz que seja a terra, a floresta, a saúde, a educação, o sexo, a arte ou um livro sagrado. O dinheiro, de objeto criado pelo ser humano, passa a ser um ídolo louvado e desejado como fetiche. Tudo vira mercadoria, tudo passa a ser comprado e vendido.

E todos sofrem com esta alienação. A burguesia principalmente, com seu complexo de Tio Patinhas, acaba se perdendo em um rodemoinho de investimentos-ganhos-acúmulos. Tanto quanto o resto da sociedade, esta classe símbolo do capitalismo também está perdida em um emaranhado social do capital que parece ter ganho vida própria e dominado a todos. O artista Sérgio Sampaio, em sua Roda Morta (Reflexões de um Executivo), nos fala da vida triste e alienada dos homens de negócios e suas rodas sociais, os "abutres colunáveis" também vivem "dias maquinais". (A canção pode ser ouvida no vídeo do final desta postagem)
                                                                                                                                                        Cazuza, nascido em uma família onde não faltou o dinheiro, nos dizia que "enquanto houver burguesia, não vai haver poesia". É possível se discordar do poeta exagerado. Mas não é difícil perceber que, como viu Cazuza, perdemos  a possibilidade da poesia concreta e vivida coletivamente.

 Um outro artista brasileiro, o maranhense Zeca Baleiro, anuncia que "a poesia está morta/ mas juro que não fui eu", diz ele na canção "Mundo dos Negócios".

Já o pernambucano Lenine nos canta o drama que levou o verbo a se matar devido a frieza da verba. "Cansado de pregar para o nada", o verbo prefere abandonar a vida. A verba gélida, metálica, como bem demonstrou Marx em O Manifesto Comunista, faz do mundo a imagem e semelhança da burguesia. O mundo, portanto, além de alienado, torna-se frio, gélido, metálico, calculista, burocrático. O desejo de acumulação alienada não só impede  a divisão, mas também joga a humanidade nos braços do verbo ter, como bem demonstram as citações de Marx  e  a velha canção (veja o vídeo mais abaixo) do grupo de rock Pink e Floyd que consta do memorável disco "Time". A vida, assim alienada, parece ser apenas mais um meio de vida, ou seja, a vida de todos que trabalham é somente mais um meio utilizado para se produzir riquezas que serão acumuladas por uma minoria. Minoria tão sem controle do seu mundo e separada por  um "poço fundo" dos "braçais",da maioria.

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   "Quanto menos você come, bebe, compra livros, vai ao teatro, sai para beber, pensa, ama, teoriza, canta, pinta, luta, esgrima etc., mais você economiza e maior se tornará o tesouro que nem traças (1) nem larvas podem consumir- seu capital. Quanto menos você é, quanto menos você expressa em sua  vida, mais você tem, maior é sua vida alienada e mais você acumula de sua essência alienada... tudo o que você é incapaz de fazer, seu dinheiro pode fazer por você... 
  “Quanto maior o poder de meu dinheiro, mais forte sou. As  qualidades do dinheiro são  qualidades e poderes essenciais  meus, do possuidor. Portanto o que sou e o que posso fazer não são de forma alguma determinados por minha  individualidade. Sou feio, porém posso comprar a mulher mais  bela. O que significa que não sou feio, uma vez que o efeito da  feiúra, seu poder repulsivo, é destruído pelo dinheiro. Como  indivíduo, sou manco, porém o dinheiro me proporciona vinte e  quatro pernas. Logo, não sou manco. Sou um indivíduo  perverso, desonesto  , inescrupuloso e estúpido, mas o dinheiro  é respeitado, e assim também seu dono. O dinheiro é o bem  supremo, e consequentemente seu dono também é bom.” (Karl Marx)

   "O trabalho, a atividade vital, a própria vida produtiva  aparece ao homem apenas como um meio para a  satisfação de uma necessidade, a necessidade de    reservar a existência física. Mas a vida produtiva é vida do  gênero. É vida produtora de vida. Todo o caráter de uma  espécie, seu caráter genérico, reside na natureza de sua  atividade vital, e a atividade livre consciente constitui o  caráter genérico do homem. [No capitalismo], a própria  vida aparece apenas como um meio de vida." (Karl Marx).  

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(1): Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. (Mt 6,19-23)  
   
Lenine: O Verbo e a Verba                                                                         


Pink Froyd: Money
Em tempo: Chico Buarque, nos falou também sobre o tema em Geni e o Zepelin: E a deitar com homem tão nobre/ Tão cheirando a brilho e a cobre/ Preferia amar com os bichos/ Ao ouvir tal heresia/ A cidade em romaria/ Foi beijar a sua mão/ O prefeito de joelhos/ O bispo de olhos vermelhos/ E o banqueiro com um milhão/ Vai com ele, vai Geni...



terça-feira, 1 de novembro de 2011

O CÂNCER NOSSO DE CADA DIA

somos nós sete bilhões 
de bocas e a sétima parte
 é faminta, mais negra e desdentada  
e despolitizada e desalfabetizada
e alimentar onze bilhões 
podíamos mas as rações

 vão para cães pitbulls terrier  

gatinhos gordos e vira latas.

            ***         ***

há o câncer que ameaça matar o presidente

 e há quem delire pela vingança natural ao político

há o câncer da máfia urbana que ameaça o deputado,

mata juízes, suga os armados e churrasqueia

há o câncer dos motoristas corruptores de guardas a se vender
há o câncer dos comunistas corruptos capitalistas e suas ongs
há o câncer dos liberais capitalistas corruptos e seu Estados baratos
há garapas nas mamadeiras e o câncer da seca ainda industrializada
há o câncer urbano e rural a devorar florestas
e há o câncer metálico a corromper ecologistas
há o câncer da bolsa noticiada mais do que a vida
e há o câncer dos  hospitais mais mortes do que vida
há também médicos vendidos à privatização da saúde
e há mesmo o câncer dos obamas a imperializar
há o câncer das  bombas na palestina, em israel, no iraque e nos músculos
a agressividade no braço branco e volumoso e no carro bêbado do pitboy
e o câncer racista branco vai de encontro ao câncer racista negro
e  há o câncer dos símbolos 88 de saudações neonazistas
e há também o câncer dos símbolos das crendices iluminats
há o câncer dos pastores agressivos e rebanhos passivos a blasfemar
contra os casais homossexuais que ainda repetem os velhos papéis de macho e fêmea
há o câncer de professores públicos que lavam as mãos para a educação popular
há também o câncer dos artistas se enquadrando nos mercados do capital
mas, de fato, há um único câncer que nos ameaça a todos: a barbárie.

          Rio, 01/11/2011
Jorge Willian da Costa Lino


Por pura coincidência, as duas músicas retiradas do Youtube possuem um tom místico, mas estão presentes aqui ilustrando o poema porque tem em comum com este a crítica social. A primeira música, Depende de Nós, está no ótimo DVD acústico dos Engenheiros do Hawaii do ano de 2007, e a segunda era da banda brasiliense Aborto Acústico de onde saíram não apenas O nosso Renato Russo, mas também diversos integrantes das famosas bandas Legião Urbana e Capital Inicial. Esta dá uma interpretação definitiva para a canção Fátima. O vídeo possui imagens originais da banda misturadas a imagens recentes do nosso mundo "pacífico", daí os obamas e os bushs que interagem com o Capital.