Amigos e/ou Leitores

sexta-feira, 24 de julho de 2015

DA CONTRADIÇÃO

O PENSAMENTO DIALÉTICO NÃO TRATA APENAS DA POSSIBILIDADE DA CONTRADIÇÃO NO SENTIDO DO DISCURSO. (ALGO CONTRADIZ O QUE FOI DITO ANTES). HÁ TAMBÉM O SENTIDO DA CONTRAPOSIÇÃO.

Algo se contrapõe a outro. E internamente algo está constituído de contradição/contraposição. O capitalismo encontra sua contradição no socialismo, mas antes mesmo já contradizia o mundo social anterior. E o capitalismo em si é constituído de contradições . sendo formado por grupos sociais diferentes possui em seu interior a contradição/contraposição desses grupos. Ver a contradição apenas como algo conceitual só é possível para quem observa a realidade como algo sem contraposição, sem contradição. E isto não impede há quem afirma que a realidade é contraditória de produzir um discurso coerente. Pelo contrário, pode mesmo dizer que a incoerência está em quem a partir de um real cheio de contradições construir uma "realidade" discursiva que não represente esta contradição. Neste sentido não cabe mesmo o relativismo. Dizer que o ser é e não-é ao mesmo tempo não pressupõe cair no relativismo. O que se exige é a percepção da transformação daquilo que é visto positivamente como dado e que , neste sentido, é uma dado em transformação. Realmente este pensamento é muitas vezes negado, pois nem sempre a realidade da transformação é percebida e/ou assumida pelo pensamento  por isso mesmo, há quem negue esta realidade, a de que tudo está em transformação e que tudo deixa de ser (merece morrer, se completar). Não se trata apenas, portanto, de uma contradição conceitual entre o que se diz e o que se nega sobre o ser no discurso. É uma contradição do próprio ser em si e com aquilo com o qual se relaciona.


domingo, 5 de julho de 2015

HÁ QUEM ME QUEIRA POESIA

"mas quero que este canto torto/feito faca/
corne a carne de vocês"*

Há quem me queira poesia
doce, suave, intocável.
Mas somos todos
todos, inclusive os intocáveis,
somos todos poesias.
Como o canto torto
como faca nordestina
também corto carnes
firo corações
rasgo falas
furo paredes
decepo sutilezas
despedaço suavidades
penetro doces.
Há quem me queira poesia
outra poesia, não a que sou
Há quem não me queira poesia.


Rio, 5 de julho de 2015 (1h e 14m)

*A palo Seco, Belchior

terça-feira, 28 de abril de 2015

LABIRINTO

Não, não acho há saída
imperativamente
todos os caminhos
todas as estradas
todos os rios
tudo
me arrasta 

para dentro mim
não há saída
Rio, 28 de abri de 2015 (2 h e 3m)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Poema Inércia de Jorge Willian - Música de Gílber Martins


Gilber deu ao texto uma marca sonora que eu não esperava. Gostei muito do resultado da junção melodia-poema, inclusive porque, ao declamá-lo em sua interpretação, Gilber mantém o  poema como um chamado à leitura e, ao musicá-lo e cantá-lo, nos mostra outros caminhos para o fato poético, o da "asa ritmada".



INÉRCIA


Não há serenata
o violão faltou ao encontro
a janela não se abriu
não brilharam as estrelas
e nem o luar iluminou
a tarde não partiu
e a noite não veio.
O tempo parou
a vida junto estagnou
a inércia do não movimento
emprenhou os espaços.
Tudo porque a morena
a linda morena
a bela morena
a morena
ainda não sorriu.

domingo, 29 de março de 2015

TEMPORAL 2

(Para amiga Rosi Coelho)
Se cai suave é temperança
se violenta é temporal.
Água quando cai
bruta é temporal
banho de chuva
correria, futebol.
Água quando cai
suave é temperança
mas se há fresta no telheiro
ou se este não existe
vem pra doer bem doído
como a dor da chuva agora
chove lá fora
pinga aqui dentro
e não há pinga
que esquente
o pingo
que cai
na gente.

Jorge Willian
Rio, 29 de março de 2015

TEMPORAL

A chuva caia devagar
agora cai de com força.
E de com força doí, destrói
corrói tudo, tudo mesmo
até nós.
29 de março, 20 h

SAUDADE NÃO É VONTADE


Saudade não é vontade
não é coisa que dá e passa
é coisa que mata
ou se morre
que renasce o distante
que nos consome
ou engorda.
Saudade não é vontade
é e não é real
mas sempre verdade.
Saudade do que fui
ontem, anteontem e nem sempre
do pirralho que fui
e dos amigos pirralhos também.
Sente, saudade se sente
de coisas vividas e sonhadas
há tempos passados.
Mas esta saudade de agora
tem uma estranheza:
saudade do hoje
que amanhã já não será.
Saudade não é vontade
é e não é real
mas sempre verdade.
Rio, 29 de março de 2015 (19h e 46m)

quinta-feira, 26 de março de 2015

O risco de chegar atrasado ao dia do golpe

REPASSO AQUI A POSTAGEM DO PORTAL "CARTA MAIOR".

O risco de chegar atrasado ao dia do golpe


Fortalecidos pela magnitude das manifestações do dia 15 de março, os organizadores do dia 12 de abril já organizam um golpe na democracia brasileira.

 
A coluna de Jânio de Freitas no jornal Folha de S. Paulo do domingo 22 de março – “Começar mais uma vez” - deve ser justamente saudada como a expressão nitidamente instalada na consciência democrática e republicana brasileira de que a direção do PSDB já está publicamente inserida em uma campanha golpista. Como recordamos no ensaio publicado nesta Carta Maior  -  “Por que ainda é possível derrotar a campanha golpista do PSDB? - , já havíamos formulado este diagnóstico em dezembro de 2014.

Não há mais lugar para a inconsciência ou subestimação da ameaça que ronda a democracia brasileira: já está em curso uma disputa pública bastante avançada sobre a legitimidade democrática da interrupção do segundo mandato da presidenta Dilma Roussef em seus inícios. Pesquisas recém divulgadas - elas próprias fazem parte da campanha midiática - dão um alto grau de impopularidade da presidenta, quatro quintos da população com a opinião de que ela sabia da corrupção na Petrobrás, três quintos marcando a opção de que ela não fez o que deveria para interrompê-la. Na pesquisa CNT/ Sensus, divulgada no dia 23 de março, 59% da população já apoiaria a proposta do impeachment da presidenta, seguindo altos índices de impopularidade do governo e de rejeição .

Se já é nítida a vontade e também a estratégia golpista do PSDB, é preciso agora diagnosticar o tempo em aceleração do processo político em curso: há um risco enorme do governo Dilma e das forças políticas que o sustentam chegarem atrasadas... ao dia do golpe.

Há boas razões para prever que o anunciado dia 12 de abril, marcado para convergir um novo protesto nacional de ruas contra a presidenta Dilma e o PT, está sendo pensado como um dia da instalação do golpe na democracia brasileira. Como isto poderia se dar?

A sua formulação de legitimidade democrática já está sendo publicamente exposta por FHC, cuja voz pública tem desde o início formulado o diapasão dos golpistas: se em dezembro já questionava a legitimidade da vitória eleitoral de Dilma, atribuindo a ela uma semi-legitimidade ou uma idéia de um país dividido ao meio, após o dia 15 de março já diferencia o impeachment por razões políticas do impeachment por razões técnicas: o primeiro poderia se dar por uma razão clara de ingovernabilidade. Seria uma decisão política do Congresso Nacional. Esta formulação tem, em linhas gerais, sido seguida por várias lideranças nacionais do PSDB.

O dia 12 de abril poderia, em uma imaginação golpista, através do cerco simbólico a centros do poder, inaugurar uma agenda de um lock-out nacional  – como se fez um teste, por exemplo, misturando reivindicações de caminhoneiros com o “fora Dilma” - , em uma cena dramaticamente configurada por todos os meios de comunicação empresarial de massa. Seria previsível neste contexto o acirramento dos ataques, inclusive físicos, a símbolos e sedes do PT, seguindo a linha da criminalização do partido que já freqüenta as manchetes dos jornais, como a manchete de O Globo de 21 de março.

Neste campo de previsão, o dia 12 de abril seria o dia 15 de março mais centralizado politicamente na exigência da renúncia ou saída imediata de Dilma (como aliás vem já sendo convocado nas redes), com mais envolvimento empresarial, com mais dramatização anti-petista e anti-governo (através de novas delações, depoimentos de Youssef na CPI, generalização das denúncias de corrupção em outras empresas estatais, algum testemunho ou ilação vinculando a corrupção ao PT ou à campanha de Dilma), com mais simbolismo (centro em São Paulo, mas simbolicamente estabelecendo o cerco em Brasília ao Palácio do Planalto).

Em uma cena de tal dramatização, seria possível confiar que a maioria da Câmara Federal está suficientemente posicionada a favor do governo para resistir a uma ação direta amparada em forte sentimento nacional captada nas redes midiáticas ou pesquisas de opinião?

Três dinâmicas

Toda a inteligência da estratégia golpista do PSDB está em que o seu núcleo real de comando organiza a manifestação pública mas não a convoca:  para lhe dar um sentido “cívico”, para além dos partidos, as redes sociais e o engajamento direto da mídia empresarial de massa cumprem este papel.  As principais lideranças do PSDB, do DEM, do PPS, do Solidariedade aparecem de forma discreta ou apenas “apóiam”, dissolvidas no verde-amarelo cívico.

Sem a presença explícita da mediação dos partidos, governos ou empresas, esta dinâmica de ruas, redes e mídias pode desenvolver todo o seu potencial anti-democrático em três dimensões fundamentais.

Em primeiro lugar, a aceleração do tempo político: não há que esperar o processo jurídico, o processo parlamentar da democracia. Há, de fato, uma sincronia entre a ação do PSDB que queria evitar a posse de Dilma e já adiantava o compasso da desestabilização do governo antes do seu início e a marcha da impaciência que mexe com os nervos à flor da pele dos manifestantes. Um jovem, bastante aplaudido ao microfone,  na manifestação do dia 15 de março na avenida Paulista acusava os “políticos que querem sangrar o governo Dilma” de serem conciliadores!

Em segundo lugar, a intolerância deve saturar toda a cena: não se deve duvidar ou discutir a verdade de que o PT e o governo Dilma são os principais culpados da corrupção no Brasil. O discurso cívico correto que não se deve tolerar a corrupção é dirigido unilateral e de modo viesado para o discurso desqualificador de que não se deve tolerar o PT ou o governo Dilma. Esta fuga ao contraditório democrático também não é espontânea mas criada pelo tratamento seletivo das investigações, pela sua publicidade dirigida contra o PT nos oligopólios de comunicação e, principalmente, pelo discurso oficial que tem a sua origem, desde 2005, na inteligência do Instituto FHC.  “Para acabar com a corrupção no Brasil, a solução é simples: basta tirar o PT do governo”, afirmou Aécio Neves no último debate na campanha eleitoral de 2014; “perdi a eleição para uma organização criminosa”, reafirmou após as eleições.

Em terceiro lugar, a cena da manifestação deve estar aberta ao discurso do ódio: não deve haver limites para a violência verbal ou simbólica. Erra, como quase sempre, o colunista parcial Elio Gaspari:  não se tratam  de excentricidades ou slogans de pequenos grupos fascista ou de ultra-direita. O micro-fone está aberto à barbárie: um torturador não foi convidado à fala ao microfone na Paulista? Bonecos da  presidenta Dilma e do ex-presidente Lula enforcados vistosamente na grade do viaduto?  Mas esta violência sem limites está já, como se observou, na fala das principais lideranças do PSDB e nos meios midiáticos que controlam: a presidenta com o pescoço pronto para ser ceifado na charge da primeira página de O Globo, a presidenta Dilma rodando bolsinha na charge que ilustra um ponto de vista do editor do site UOL!

Vigília democrática

Esta inteligência estratégica golpista que arma o tempo acelerado, a intolerância e o discurso do ódio deve ser enfrentada desde já e com a máxima urgência por uma inteligência democrática, capaz de mobilizar os fundamentos dos sentimentos democráticos, republicanos e socialistas do povo brasileiro.

O primeiro desafio é tomar a pulsão verde amarela do tempo golpista através da antecipação de seus passos. Já há elementos e consciência suficientes para propor à sociedade brasileira uma vigília democrática verde-amarela e de todas as cores e a formação de um amplo movimento em defesa da democracia, das liberdades e contra a corrupção. Esta vigília democrática deveria ser capaz de mobilizar e denunciar oficialmente as intenções golpistas de FHC, Aécio Neves, Rede Globo e dos grupos proto-fascistas que organizam as manifestações pelo impedimento político da presidente. Ele deveria ser capaz de formar em torno de si toda uma rede diária e permanente de comunicação democrática e popular, como fez Brizola em 1962 formando a partir de uma rádio gaúcha toda um rede nacional pela legalidade da posse do vice-presidente Jango Goulart após a renúncia de Jânio.

O segundo desafio é o de desconstruir a autoridade do PSDB de conduzir a luta pelo fim da corrupção sistêmica no Brasil, através de uma massiva campanha pública capaz de furar o bloqueio do anti-pluralismo midiático. As lideranças que conduzem a campanha golpista estão cercadas por todos os lados de denúncias documentadas de farta e sempre impune corrupção. O PSDB é certamente, pode se comprovar com razão e provas, o partido que dá a maior cobertura e apoio à corrupção no Brasil! Em particular, a figura de Aécio, presidente do partido golpista, é alvo de vídeos de Youssef, provas documentadas e periciadas, testemunhos convergentes que indicam a sua presença em escândalos de corrupção. Os golpistas conseguirão manter isto à margem do conhecimento da opinião pública nacional, da maioria dos brasileiros?

O terceiro grande desafio é o de recoesionar a base política, social e eleitoral do segundo governo Dilma através de uma rápida e urgente reorientação de política econômica, retomando os temas do desenvolvimento, da construção dos direitos das classes trabalhadoras, da ampliação e qualificação das políticas públicas, do enfrentamento dos preconceitos contra os negros, as mulheres e os gays.

Não se pode lutar contra o ódio da direita golpista sem mobilizar, de modo profundo, as paixões e esperanças do povo brasileiro em defesa de seus direitos. Isto não acontecerá se o discurso, a imagem e os símbolos do governo estiverem atados à linguagem fatal da recessão, da restrição, mesmo que na margem, de direitos, na limitações das políticas públicas.

Esta vigília democrática, por sua representação e força acumulada,  com sua capacidade de mobilização e denúncia, ainda teria condições de paralisar a estratégia golpista que converge para o próximo dia 12 de abril.

Juarez Guimarães
José Cruz/Agência Brasil

http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FO-risco-de-chegar-atrasado-ao-dia-do-golpe%2F4%2F33132

sábado, 14 de março de 2015

INÉRCIA


Não há serenata
o violão faltou ao encontro
a janela não se abriu
não brilharam as estrelas
e nem o luar iluminou
a tarde não partiu
e a noite não veio.
O tempo parou
a vida junto estagnou
a inércia do não movimento
emprenhou os espaços.
Tudo porque a morena
a linda morena
a bela morena
a morena
ainda não sorriu.


Rio, 14 de março de 2015 (04h e 36m)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

TANTOS CAMINHOS


Das sementes 
dois viés iniciais se fizeram.
O primeiro aprofundou-se
abriu seu caminho entre húmus, pedras, 
terras e outras raízes.
Não satisfeito este viés se fez muitos
espalhou-se em raízes várias e menores
ali alimentou-se, grudou-se
descobriu o oculto invisível.

O segundo viés os ares buscou
fez-se tronco e galhos
e desejoso de asas e penas
se deixou criar folhas
voou ao leo muitas vezes
levado pelos ventos
tragou a luz
descobriu o oculto visível


Rio, 02 de Janeiro de 2015




segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A CIRANDA

A CIRANDA
E o vento despertou
fez-se deus
animou a terra
revigorou o fogo
fez mover a água
e os galhos criando asas
moveram-se ao leo
raízes apassarinharam-se
olhos não sabiam as direções
bocas gritaram
gados mugiram
após virarem pássaros também
pardais rodopiavam no ar
na ciranda que os envolvia
uniram-se às vacas, galhos e raízes
tudo se fez um na fúria leve
do despertar do vento-deus.

Rio, 18 de dezembro de 2014 (12 h e 41 m)


https://www.facebook.com/video.php?v=815318265201568

Riacho

Riacho
(Para Marcelle)

Uma vez fui menino
só uma vez, se me lembro
e foi como um riacho
que escorre e nunca volta
e nunca sai dali também.
Fui menino,
uma vez, depois nunca
nunca mais naquele dia
só nos outros
mas era um outro menino
nunca mais o mesmo
uma vez fui e só uma vez
assim como hoje
menino ainda
riacho antigo
escorrendo, escorrendo
sem volta.

Rio, 16 de dezembro de 2014 (01h e 54m)

domingo, 25 de janeiro de 2015

AS CORDAS



Acorda, lá vem o dia
e ele te sacoleja
te querendo desperto
a corda de seu velho relógio
acelerou o tic-tac repetitivo 
seu compasso se perdeu
ficou apenas esta disritmia melancólica
mas a cor deste dia te chama:
acorda!
levanta, escove e passe a corda
entre os dentes
que o dia te ordena um sorriso
e a cara de felicidade estampada
que lá fora te esperando
balança a corda do dia
enfia vosso pescoço
agradeça ao sol e sorria
balance pendurado no tempo
este que não é teu nem meu
e sorria
um defunto triste desagrada
sorria que a noite chegará
depois, porém, do trânsito que te levará
para o matadouro diário
depois, porém, do afago falso dos amigos
depois, porém, do esporro rancoroso
de vosso patrão rancoroso
acorda, dormirás no balanço da condução
dormirás o dia inteiro acordado
amanhã será outro dia
e sua nova corda já está sendo trançada
teu pescoço novamente ornamentado será
acorda.

Ou acorde diferente
mande tudo às favas!
acorde de verdade
e retire as cordas de vossa vida
desacelere o tic-tac
crie seu compasso
gargalhe
ria
sorria
gargalhe
retire as cordas dos galhos dos dias
retire as amarras
os grilhões
e os grilos
veja este ritmo perdido
sem corda, sem ponteiro
sem seta
sem meta
sem veto
sem certo ou errado
acorde!
não porque o dia manda
que nem precisa ser dia para acordar
acorde...
que por agora
deitar-me-ei outra vez.
acorde, deite-se do meu lado.

Rio 15 de dezembro de 2014
(05h e 41m)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A DIALÉTICA E A CONTRAPOSIÇÃO

       


O PENSAMENTO DIALÉTICO NÃO TRATA APENAS DA POSSIBILIDADE DA CONTRADIÇÃO NO SENTIDO DO DISCURSO. (ALGO CONTRADIZ O QUE FOI DITO ANTES). HÁ TAMBÉM O SENTIDO DA CONTRAPOSIÇÃO. Algo se contrapõe a outro. E internamente algo está constituído de contradição/contraposição. O capitalismo encontra sua contradição no socialismo, mas antes mesmo já contradizia o mundo social anterior. E o capitalismo em si é constituído de contradições . sendo formado por grupos sociais diferentes possui em seu interior a contradição/contraposição desses grupos. Ver a contradição apenas como algo conceitual só é possível para quem observa a realidade como algo sem contraposição, sem contradição. E isto não impede há quem afirma que a realidade é contraditória de produzir um discurso coerente. Pelo contrário, pode mesmo dizer que a incoerência está em quem a partir de um real cheio de contradições construir uma "realidade" discursiva que não represente esta contradição. Neste sentido não cabe mesmo o relativismo. Dizer que o ser é e não-é ao mesmo tempo não pressupõe cair no relativismo. O que se exige é a percepção da transformação daquilo que é visto positivamente como dado e que , meste sentido, é uma dado em transformação. Realmente este pensamento é muitas vezes negado, pois nem sempre a realidade da transformação é percebida e/ou assumida pelo pensamento E por isso mesmo há quem negue esta realidade, a de que tudo está em transformação e que tudo deixa de ser (merece morrer, se completar). Não se trata apenas, portanto, de uma contradição conceitual entre o que se diz e o que se nega ao se em seguida no discurso.


Uma porta é uma porta, estando aberta ou fechada. A contraposição de estar aberta ou fechada ainda não dá conta da contradição interna da porta que está deixando de ser, que está "morrendo" passando pela transformação inerente ao seu ser que está em relação com o real onde está inserido. Além disso, ela se opõe aos demais elementos do real: o portal, a parede, o lado de fora e de dentro do espaço em que foi colocada. A sua positividade de ser porta não existe sem a própria negatividade de não ser os demais elementos. E uma porta em si, isolada de tudo, só "existe" no mundo das ideias, no mundo conceitual, no mundo do discurso. No real ela só existe em relação e, portanto, em contraposição com os demais elementos do real. A sua materialidade só é possível em relação. Além disso, internamente ela é composto de átomos que estão em relação entre si e entre os demais átomos fora da porta.

MANTRATHOMÁS

Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Ei, Menino, amo-te
Ei, Menino, amo-te
Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te


29 de novembro de 2014

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ABRAÇO


(Para Amanda)

Quando a noite 
dentro aqui faz morada
do lado de fora]a luz envolve-me

Quando o silêncio
tudo atordoa por dentro
guizos alegres
cantam a minha volta

Assim, sou
quando
me abraças:
noite iluminada
silêncio que canta.

Rio, 17 de março de 2011
Jorge Willian

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

FOTO



Quando olhei
Quando observei
Quando realmente admirei
Já não estava mais lá
De fato já não existia
De fato já se fora
De fato já não era mais um fato
Quando olhei para aquela foto
Aquele que ali eu via
Já nada se parecia com aquele que via
Era outro aquele eu
Era eu deixado de ser
Era eu que não era mais
Quando olhei
Quando observei
Quando finalmente admirei
Já não existia
E apenas passaram-se
Um minuto.

Rio, 28 de Novembro de 2014 03h e 17 m.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Pés


(Para Alê e suas meninas)
Os caminhos que fazemos
seguem passos diferentes
e direções várias
invariavelmente
se cruzam
se unem
na distância e sua ausência
ou na tangente e seus abraços

O que fazemos
é o que somos
embora, pedras às vezes,
quase sempre somos pés e seus caminhos
e somos pés que se encontram
que trilham caminham novos
que se reencontram
somos o que fazemos
somos caminhos
somos pés.





Jorge Willian (Rio, 21/11/14 10h e 56m)

domingo, 18 de janeiro de 2015

A META



Todos atingem
E mesmo assim
É feio quando antes
Os jovens a alcançam
Desrespeitando seus ancestrais
E, rompendo a barreira do justo,
Arrebentam a fita de chegada.

A meta é para todos,
Por que, meninos, tanta pressa?

Deveria haver uma regra
Regra de respeito ao desejo
Desejo imemorial
Dos antigos cruzarem primeiro a barreira.

E deveriam esses jovens
Respeitar a fila.
Mas por que, rapazes, tanta pressa?

É sempre assim
Alguns apressadamente
Desembestam a correr
E desesperadamente atingem
A meta antes
A chegada antes.

Seus ancestrais,
Torcendo para não serem ultrapassados,
Lacrimejam
Gritam
Odeiam
A meta.

Rio, 04 e 17 novembro de 2014

sábado, 17 de janeiro de 2015

SERES REAIS


Uma sereia seria sereia se sereias existissem
Como não existem, uma sereia vista não é uma sereia
É apenas uma série criada pelo cérebro serelepe
É como um centauro, uma cereja em mãos de Ceres.
Sereia, centauros, Ceres... uma série cerebral, nada mais
Real mesmo, só este unicorne em que monto agora
Até a volta, voa pégaso! Voa!!!

Rio, 10 de Novembro de 2014 (14h e 42m)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

POEIRAS



Não há saída
nem houve entrada
sempre estivemos dentro
e não há possibilidade de nos retirarmos
jamais sair conseguiremos
fatalmente somos ele
desde o princípio
pó no universo 

rio, 3 de novembro de 2014

ESQUECIMENTO


Lembrei do que esqueci
qual era mesmo
o nome?
o dia?
e quem era?
E não esqueci apenas
quem era ele
aquele que na foto sorria
aquele
que disseram logo depois
que era eu.
Quem disse?
sei lá!
Esqueci também
quem eu era
naquele dia?
o nome?!
ainda não lembro.
09/11/14 (0h, 58m)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sempre que possível fiquemos com o menos trabalho, com menos ópio para o bolso e mais para a pele, o sangue, o coração. Mais amigos e amores, menos labuta que não somos assim tão filhos do desespero, para não dizer da puta. É bom quando lembro de Paralelas e de Belchior sempre nos jogando na cara:

e no escritório onde eu trabalho
e fico rico
quanto mais eu multiplico
diminui o meu amor

02 de novembro de 2014

Tempos


teremos?
se tivermos
o que deles faremos?
se fizermos
seremos céus
ou infernos?
teremos tempo
de infernalizar os céus?
ou apenas, apenas
lançaremos as labaredas?


Rio 02 de novembro de 2014

VIVA A POESIA


Se queres sentir a poesia
que te faças então vida
não a do tipo vazia
covardemente querida
que te faças então
vida quente e vadia
tipo de tremer coração
de encantar o dia
de torná-lo noite escura
a noite fugidia
noite sem brandura
fervorosa poesia
se queres sentir o que queria
torna-te poesia
não em papel rabiscada
mas sentida, respirada
se queres sentir a poesia
viva a poesia
Rio, 21 e 26 de outubro de 2014.

OS lob(BUND)ões UIVAM PARA A LUA

Não era lobo o animal
apenas 
dos homens lobo era 
e não era um apenas
muitos o acompanhavam
uivando
esfolando a pele
e rasgando a carne
de homens encontrados
ao acaso
ao relento
muitos eram BUNDs como ele
BUNDS no meio
embora
lo e bo nas pontas
patas lo
cabeça bo
de fato
os animais
eram lob(bund)ões
amigo de lobos
devoradores de homens
e mulheres
e crianças
os BUNDs caminham
em pequenos grupos
duas patas os sustentam
duas patas e o medo
que homens a digerir desapareçam
Os BUNDs
fingem emigrar
mas não tem asas
apenas patas e dentes vorazes
Uivam em pequenos grupos
Uivam para cima, para os da lua
e o silêncio os ouve
mais do que a fome
os Lo(bund/b)ões
eles existem
mortos-vivos
mas existem
e rimos e rio
e rio
rio.
RIO DE JANEIRO, 02/11/2014