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sexta-feira, 29 de abril de 2011

MAL NECESSÁRIO: O MINISTRO E A CANÇÃO

Duas versões sobre o mal necessário: a primeira na fala de um dos ministro  do Supremo Tribunal Federal (STF) defendendo a ditadura imposta aos brasileiro no dia 31 de Março de 1964. O ministro é um membro da família do ex-presidente Fernando Collor de Mello, aquele que  participou da ARENA, o partido que sustentava a ditadura. Collor é hoje senador pelo estado de Alagoas, mas em 1990, quando era presidente da república, indicou o seu primo Marco Aurélio Mendes de Faria Mello  para ser ministro do Supremo Tribunal. Sua família compartilha do poder pelo menos desde a época de Getúlio com o senador Lindolfo Collor, avô do atual  senador e que foi ministro do trabalho na ditadura de Vargas.

A defesa do que o ministro Marco Aurélio Mello chamou de "mal necessário" nada mais é do que a defesa de um anti-comunismo tão comum aos totalitários de direita na suas pretensões de defender o empresariado. O "mau necessário" foi para os trabalhadores apenas um mal. Necessário foi (e pode vir a ser) para os grupos que dominavam e dominam o Brasil. Qualificar de necessário o mal que foi a ditadura é, na verdade, dizer que os torturadores e exterminadores da época agiram para o bem. Mas bem de quem? De quem tem bens a proteger, é claro. Como representantes de um Estado empresarial não é difícil compreender as posições a favor dos dominantes nas votações de diversos membros do supremo e, em particular, do ministro Mello.
Mas nem todo mal necessário é tão mesquinho como parece ser aqueles que ainda defendem a ditadura de 1964. A uma outra versão do "Mal Necessário" que é a música  gravada por Ney Matogrosso e cujo título foi dado por ele. A canção foi composta por Mauro Kwitko, e disse Ney, em uma entrevista na antiga Rádio Nacional, que a canção foi feita pelo compositor quando este estava dormindo. Repare que a poesia é muito boa, a canção é linda e a interpretação maravilhosa. O arranjo é genial, inclusive o belo som da guitarra.  Tudo isso foi feito em 1979, ainda nos tempos da ditadura, a mesma que se incomodava com os rebolados de Caetano e do cantor do Secos e Molhados.

Deve ter gente no Supremo, assim como no Congresso, achando que o seu mal necessário não foi tão eficaz, que apesar de ter exterminado os comunistas deveriam ter controlado os homossexuais que também queriam e ainda querem, segundo dizem alguns desvairados, acabar com a sagrada  família brasileira. E fingem não perceber que a exploração salarial empurrou pais e mães para o mercado de trabalho e as crianças para as babás eletrônicas, as ruas e as internets da vida. Multiplicar e baratear a mão de obra, esfacelar a família, culpabilizar comunistas e homossexuais talvez sejam posições defendidas no futuro por algum Ministro  como um mal necessário. 

Tende piedade deles... eles sabem o mal que fizeram e fazem, mas ainda cantam na madrugada: "eu sou o mau...mau mesmo...todo mundo aqui vai dançar..."

        O mal (des)necessário do Ministro e o belo Mal Necessário da canção:
               

quarta-feira, 20 de abril de 2011

GRAMÁTICAS


                      Titãs : Rock Americano

a músiva de joão bosco
que brinca com as palavras
refazendo sonoridades
os versos de drummond
seriamente brincando
com os significados dos significantes
o rock americano da línguística titânica
o português "errado" dos turistas
tão seriamente confundindo
o "sexo" das palavras
nos pondo a rir
o balbuciar infantil
criando palavras novas
e significados novos
para coisas e palavras velhas
e o menino na rua
menino da rua,
menino de rua
brincando com a vida
vivendo tão seriamente a sua gramática
equilibrando-se em cima
da palavra agora
chutando a palavra medo
pulando a palavra infância
preso nas palavras fome e prisão
o menino na/da/de  rua
recria a língua na sua insignificância:
"perdeu, sou pica, mermão!
e se peidá toma chumbu",
"caralhu, fudeu!"
"vaza, porra!
vô te esculachá"
traduções?
vida, morte, sobrevida
sobrevivência, vingança
resistência, descaso
ausência, presença...
talvez...

 Rio, 15/02/1987 e 20/04/2011 (JWCL)


sábado, 16 de abril de 2011

E. M. Tasso da Silveira - Memórias (Rodrigo Fernandes)

Publico desta vez um texto enviado pelo amigo Rodrigo Fernandes, responsável pelo belo blog "Ao Vinagrete". Rodrigo é um ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira e hoje o encontrei em um ato organizado pelos ex-alunos daquela escola. No ato foi fácil perceber porque aquele estabelecimento de ensino é motivo de orgulho: é uma grande família que, apesar do afastamento momentâneo de parte dos seus membros, mantem o orgulho de pertencimento àquela instituição. O encontro foi uma verdadeira catarse para aqueles que nesses últimos dias estão sofrendo por muitos motivos, onde não se pode deixar de citar o ataque à historia/memória individual de cada um que forma aquela família, da qual faço parte desde 1992, ano em que comecei a trabalhar na Tasso e pude conviver com Valdemar, Claudio , Marina e outros amigos. Segue o texto, espero que gostem.


E. M. Tasso da Silveira - Memórias   (Rodrigo Fernandes) 

Eu sou um pobre homem da Póvoa da Varzim...
(Eça de Queiroz: Carta a Pinheiro Chagas)

Eu sou um pobre rapaz do Jardim Novo do Realengo. Eu era diferente e tive sorte, pura questão de causa e consequência. Diferente pois realmente adorava ir para a escola. Sorte porque minha turma era a melhor de todo o bairro, melhor do mundo. É claro, of course, que a professora de inglês, ainda miúda e bonita em minha memória, era um incentivo e tanto, embora eu nem soubesse muito ao certo por quê, mas não me engano: eu estudava na Escola Municipal Tasso da Silveira.

Ela ficava ali, sólida e tranquila, logo atrás da rua Piraquara, que a gente chamava de avenida pela compridez, entre o conjunto de apartamentos da aeronáutica, onde todo mundo queria morar por que lá tinha piscina, e o terreno da fábrica de vinagre abandonada, cujo o único morador era um cavalo velho e doente. Um terreno imenso, hoje transformado em um conjunto grandioso, onde provavelmente muita gente também quer morar. Quando a quadra estava ocupada pelos alunos mais marmanjos, o que era quase sempre, a gente ia parar na pracinha da Nogueira de Sá (essa avenida de fato) que ainda deve estar lá. No São Luiz, campo grande, quase todo gramado às margens do Rio que corta todo Realengo, da Pedra Branca à Vila Militar e que há tempos, dizem, era repleto de cascudos gordos. Ou na pior das hipóteses parávamos no Alvorada, um rala-côco de primeira, ou última categoria, a gosto do freguês. Essas eram as fronteiras de uma área nobilíssima dentro da imensidão do Realengo, só muito ao longe o morro, hoje comunidade, do Cosme e Damião impunha respeito.

Estudei lá de 1988 a 1993, o antigo ginásio e primário (o nome era esse mesmo?) e tenho fé: não há exagero em afirmar que naquela época, e não se passou tanto tempo assim, a Tasso era a melhor escola pública da região. Bem cotada em qualquer ranking das melhores do Rio. Dizer que estudava lá era um orgulho besta, mas real. Eram comuns as filas dos pais na porta da escola em época de matrícula, eram dias e noites ao relento esperando alguma vaga milagrosa, mas valia à pena. Minha mãe também passou pelo calvário, mas não rolou e só entrei graças a alguma conexão obscura de uma tia com um funcionário do baixo clero da secretaria de educação.

Não era uma escola fácil para jovens homens. Fila, forma, cantar o hino, saudar a bandeira, marchar no 7 de setembro. Uniforme, impecável. Presença dos pais. Tudo isso era cobrado do aluno. Então de onde vinha a alegria de acordar cedíssimo (o horário também era militar) e caminhar um bom par de quilômetros para passar por isso? Confesso que não era um aluno diferenciado, não frequentava os seres abissais do fundo da sala, mas estava muito longe de ser um modelo. Porém sabia – ou melhor, intuía – que estudava numa escola diferenciada. Grandes dias, grandes professores. Ok, havia bullying, sim (cheguei a levar uma bolacha ou duas) e a paisagem em volta da escola mudou um bocado, quase nunca para melhor. Aqui os morros trocando as encostas verdes por barracos, acolá os campos de várzea virando condomínios que tentavam tolamente fugir da realidade. E a Tasso no meio disso tudo, resistindo. E, justiça seja feita, exceto um caso lendário, jamais comprovado e muito provavelmente inventado de um aluno que um dia fora armado para impressionar os colegas, nunca vi nada demais acontecer por ali. Coisas – da pouca-vergonha à alguma violência juvenil – que aconteciam em outras escolas nos chegavam apenas rumorejantes e eram, de fato, para nós, novidades escandalosas. 

Na boa? Descontadas as devidas proporções, a Tasso da Silveira foi o que eu poderia chamar de minha Macondo. Grandes amigos, grandes memórias. É óbvio que as coisas não são como antes e seria cretinice esperar o contrário, mas se a escola perdeu um muito do seu prestígio nos últimos anos, havia uma série de ideias sérias e inteligentes em curso para reverter tal situação (conheci poucos professores tão íntimos de suas escolas). Isso até a última quinta-feira. Liguei para um velho mestre e conversamos o de sempre: os desmandos do governo, a política internacional, o futebol. Não tocamos n’ O Assunto e era como se nada tivesse acontecido, simplesmente porque tudo era impossível e irreal. É difícil entender como os corredores onde aprontei e aprendi tanto por tanto tempo tenham virado um cenário de filme de terror. A tragédia definitivamente não combina com aquela escola. Nem a tragédia, nem malucos suicídas, nem paredes lavadas de sangue e muito menos alunos transformados em alvos móveis. Isso não combina nem com a Tasso da Silveira da minha memória, nem com a real, da qual tenho orgulho e sou honestamente grato. Eu e muita gente, tenho certeza. 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

REVOADA

                          


Ainda era noite no meu quarto
Lá fora o sol já amanhecia
Mas o galo não cantava e nem os pássaros
Gritos, gritos eram ouvidos
E o som metálico os pássaros mudos espantou                             
Bateria metálica e grande revoada
E a noite sacodiu meu quarto
Chamou-me para ver o dia de sol claro
Dia claro todavia nebuloso
De galo emudecido e pássaros mudos espantados
A noite também espantada chorou
O dia de sol nebuloso confuso ficou
E  alguns pássaros bateram asas para longe
A bateria calada deitou-se
E no ninho já não era noite e nem dia
O tempo apagou-se
E o passaredo junto comigo orvalhava.
   
   Rio, 15/04/2011 (0h4m)


         
  

domingo, 10 de abril de 2011

SOMOS TASSO DA SILVEIRA


               TASSOFILIA           
SOU DA TASSO NÃO DESISTO NUNCA!!!
SOU DA TASSO, NUNCA DESISTO!!!
DESISTO NUNCA, SOU DA TASSO!!!
DA TASSO SOU, NUNCA DESISTO!!!
NÃO DESISTO, SOU DA TASSO!!!
SOU TASSO, NÃO DESISTO!!!
NÃO DESISTO,
SOU TASSO
SOU O QUE NÃO DESISTE
SOU TASSO DA SILVEIRA
ALUNO PROFESSOR SOU
TASSO DA SILVEIRA
ALUNO PAI MORADOR SOU
TASSO DA SILVEIRA
GARI MERENDEIRA
TASSO DA SILVEIRA
AMIGO JOVEM VELHO SOU
TASSO DA SILVEIRA
MAIS DO QUE ESTOU
SOU
TASSO!!!!
      (jorge willian, 10/04/2011)

sábado, 9 de abril de 2011

O MASSACRE NAS ESCOLAS. E O QUE FAZEMOS?


Ontem você foi trabalhar? A vida continuou igual ao que era antes do massacre dos estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira? Resposta positiva?! Já está anestesiado? A violência chega a este extremo e...tudo bem? Se você é professor você foi dar aula? Aula de quê? Aula de como se finge que não poderia ser os teus alunos ou você  a vítima? Se você é pai não ficou indignado e não protestou, o que fez? Se estas perguntas lhe ofendem, eu pergunto: por quê? Será que se caisse uma bomba e derruabasse prédios no Brasil, passaríamos por cima dos escombros e/ou das vítimas para no dia seguinte ir para o trabalho? O medo do patrão é tão forte que nem neste caso mostramos nossas indignações?

Se você é aquela diretora que se chateou porque a sua  professora  no dia de ontem resolveu protestar e/ou chorar já se perguntou se o caso tivesse ocorrido na sua escola o que você faria? E se fosse na escola do seu filho, o que a senhora diretora de um cargo de "confiaça do prefeito" faria?  Iria se lembrar que houve ponto facultativo na época da escolha da  cidade sede das olímpiadas? E o que isto importa? Nada!!! Então você já morreu de tantas anestesias e não sabe. Ou a submissão à normalidade imposta pela secretaria de educação lhe gera mais medo do que a violência que poderia  (e todos sabemos que pode) atingir à qualquer comunidade escolar.

É claro que o caso ocorrido na minha escola pode ser visto como um caso  extraordinário, não acontece todos os dias massacres de crianças em escolas nem dos EUA quanto mais do Brasil. Mas a insegurança do dia-a-dia por que passamos dentro das escolas parece não atrair a imprensa com a sua liberdade (empresarial) de só expressar o sensacionalismo que atrai o lucro ou que agrada aos seus interesses políticos e ideológicos- esta é a única explicação que encontro para não ver publicado os diversos casos de violência que invadem o cotidiano escolar. Por outro lado, as ditas  autoridades públicas que tem a obrigação de zelar pela segurança dos que estão presente em suas escolas, fingem desconhecer os casos e tentam inclusive proíbir os funcionários das escolas de irem a público para denunciar. Só depois de autorizado pelas autoridades, um professor da escola pode contar o que ele vivenciou (e aindam falam em liberdade de expresão!). O objetivo é inventar o mundo fictício onde a escola parece estar em uma redoma protegida da realidade que todos conhecemos. O Objetivo é enganar a sociedade tentando nos fazer acreditar que nós (professores, alunos e funcionários)  estamos protegidos dentro das escolas. Nem dentro, nem fora, esta é a realidade. Cabe as autoridades, que nos momentos trágicos aparecem discursando no interior do espaço escolar, garantir a segurança daqueles que convivem cotidianamente neste espaço. Mas eles tentam nos fazer crer que este episódio ocorrido na escola em que trabalho é um episódio isolado. Com certeza ele é um caso extraordinário, mas não é um caso isolado de violência nas escolas públicas ( e também nas escolas privadas) de nosso pais.

O silêncio da imprensa e das autoridades em relação aos diversos tipos de violência dentro das escolas é um ato político. Só assim a insegurança pública pode ser vendida para a população como segurança. O silêncio da imprensa e das autoridades é uma forma mágica de retirar o 'In" da palavra insegurança. Mas é um uma forma ilusionista de mascarar a realidade e garantir votos, entre outras coisas. Mas nem todos se deixam enganar. Como presenciei em um dos velórios, alguém disse ao ver uma das autoridade presente : "secretário de segurança... não consegue dar segurança nem para uma escola".  Não consegue e não demonstra querer isto. Primeiro porque, como já disse, os fatos não vem a público, segundo porque a sua polícia continua invadindo comunidades nos horários  em que as crianças estão entrando e saindo das escolas. Você conhece o cotidiano de uma escola que participa  do projeto "Escola do Amanhã"? Trabalhei em uma delas... o terror invade as mentes nas salas de aula quando os caveirões estão próximos. Você sabe por quê? A insegurança pública promovida pelas autoridades é um dos fatores.                                                 

O radicalismo religioso e a loucura do assassino massacrou nossas crianças, mas isto não pode ser visto só desta maneira. O silêncio da imprensa também massacrou nossas crianças. O ilusionismo das autoridades massacrou nossas crianças. A anestesia (acomodação) que entorpece a maior parte da sociedade também massacrou nossas crianças. Intolerância religiosa, silêncio, ilusionismo, anestesia são , neste caso, mais do que nunca, fatores humanos que devemos combater em respeito àqueles que foram e são vítimas da violência e que, neste momento apenas servem para alimentar as mídias sensacionalistas e o nossas preferências estéticas pelas tragédias.  
 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

NO TEMPO DOS PARDAIS, A NOSTALGIA

Ainda estávamos na ditadura pós-1964, mas por saudosismo, nostalgia ou por escapismo, a canção brasileira nos falava de um tempo mais feliz que havia se perdido, de um tempo em que ainda havia bondes e fadas e dama e margaridas. E a  canção que  sonhava com o passado também denunciava o momento cruel de um capitalismo que urbanizava tudo de uma forma autoritária. Mas a canção também delirava  e desejava tempos novos, onde  redescobririamos o "tempo dos pardais". Pelo menos era assim que eu ouvia a canção de Sivuca e Paulinho Tapajós. E era na voz contundente e triste de Fagner (acompanhado da delicadeza de Sivuca). E eu, meio que perdido, era um ouvinte voraz da MPB. Foi ela, através de seus compositores, cantores e instrumentistas, a principal responsável pelo meu desejo de buscar a poesia e um olhar crítico tanto do poder que nos ofendia quanto das relações pessoais. Coisa esquisita: canções que além de emocionar e divertir nos fazia pensar e buscar um mundo novo. O escapismo na verdade era a fonte do estar no mundo e de vivê-lo radicalmente. Era um falso e doce escapismo.

Desculpe o leitor a nostalgia, mas hoje ouvindo a canção "No Tempo dos Pardais" fui realmente tomado por elas, a nostalgia e a canção. Também já era tarde quando resolvi ler uma poesia postado no Blog "Angola: os poetas", e ao ler me lembrei da canção e procurei ouvi-la na Internet. E o fiz inúmeras vezes, como faço com as canções que me (co)movem. Resultado: a nostalgia fez da casa o seu império. Para desafogar um pouco, resolvi postar a canção aqui, talvez seja uma forma de limpar o blog que ontem tratou da boçalidade (veja o texto "Bolso, o Viúvo...").  Ou talvez seja a vontade cruel de fazer os mais velhos ficarem nostálgico como estou agora e os mais novos com a saudade do não-vivido (uma doce inveja), do tempo em que os rádios tocavam canções, apesar de todos os pesares que era viver na ditadura burguesa e militar brasileira. Segue um vídeo com a canção e a letra.
No Tempo Dos Quintais
(Sivuca Paulinho Tapajós)

Era uma vez um tempo de pardais
De verde nos quintais
Faz muito tempo atrás
Quando ainda havia fadas

Num bonde havia um anjo pra guiar
Outro pra dar lugar
Pra quem chegar sentar
De duvidar, de admirar
Havia frutos num pomar qualquer
De se tirar do pé
No tempo em que os casais
Podiam mais se namorar
Nos lampioes de gás
Sem os ladrões atrás
Tempo em que o medo se chamou jamais

Veio um marquês de uma terra já perdida
E era uma vez se fez dono da vida
Mandou buscar cem dúzias de avenidas
Pra expulsar de vez as margaridas
Por nao ter filhos, talvez por nem gostar
Ou talvez por manias de mandar

Só sei que enquanto houver os corações
Nem mesmo mil ladrões podem roubar canções
E deixa estar que há de voltar
O tempo dos pardais, do verde dos quintais
Tempo em que o medo se chamou  jamais

terça-feira, 5 de abril de 2011

BOLSO, O VIÚVO-LÍDER DA DITADURA

Ainda choram as viúvas e os viúvos da velha ditadura brasileira instalada em nosso país em 31 de Março de 1964. Se os golpistas tivessem mais paciência e esperassem mais 24 horas teriam feito melhor: teriam esperado o dia da mentira para colocarem em prática o que arquitetaram durante vários anos com o apoio do governo estadunidense. A  maior mentira (e hipocrisia) da época foi dizer que estavam defendendo a democracia evitando o voto popular e prendendo suas lideranças.

Hoje as viúvas chorosas e os viúvos babãos votam e elegem suas lideranças. Recentemente reelegeram um tal de Bolsonaro-  a palavra boçal nos vem a mente não é sem querer, vem  como consequência do teor alcoólico das palavras que destilam da boca deste senhor de raciocínio mal articulado. Boçalnaro, ou melhor, Bolsonaro que chamo a partir de agora de "Bolso" -desculpem a falsa intimidade- vive a falar besteiras que rapidamente são divulgadas nas mídias.

Bolso é uma liderança e é também um dos viúvos que sofrem a nostalgia do tempo em que antigos comandantes, que pisavam no povo com suas botas,  beijavam as mão dos empresários e governos imperialistas. Triste sina de um grupo cujos "lobistas" tem como líder um viúvo-líder-boçal. A direita brasileira já teve intelectuais orgânicos melhores: Carlos Lacerda, Francisco Campos, Azevedo Amaral, Oliveira Vianna, Plínio Salgado e outros. Mas Bolso é a decadência do nosso velho autoritarismo. Claro, poderiam dizer o mesmo da esquerda eleitoreira do Brasil, mas os autoritários tem dinheiro e tem a ESG. Não tinham no bolso representantes melhores do que Bolso?!  

O viúvo-líder  é o  que mais chora e, ultimamente, vive a espernear a sua plataforma reacionária de direita. O senhor viúvo, com suas lágrimas saudosistas, cada vez mostra-se mais insano e faz defesas que fazem gargalhar alguns e vomitar outros. Há também os que batem palmas para as suas bobagens e para as suas defesas de um regime anacrônico e que se mostrou uma fonte de rapinagem de nossas riquezas.

Há poucos dias, Bolso nos mostrou  a sua  homofobia e o seu racismo. Em breve nos mostrará que deve ser um  machista em perseguição de mulheres emancipadas. Por outro lado, se tiver uma filha sabe que a sua luta maior no congresso é para deixar intacta as pensões das filhas dos militares. Conheço algumas que  preferem morar junto com o(a) parceiro(a) evitando se casar, não porque são contra o casamento civil e religioso, mas para manter o privilégio das pensões que, neste caso, são vitalícias e hereditárias. E ninguém sabe na mídia conservadora onde nascem os prejuízos da previdência pública.  Civis pagam pelo privilégio da  filhas de militares que , em alguns casos, devem torcer pela morte dos pais e abocanhar- na forma de pensões- o que foi descontado de todos os servidores sem que elas pagassem nada por isso. Sei que alguém vai dizer que seus papais pagam para ter o privilégio. As filhas dos outros também gostariam de ter: "receber com o papai contribuíndo com tão pouco e eu com nada é a visão do paraíso nas terras brasilis".

Mas voltando ao Bolso, a última baboseira do viúvo-líder foi a defesa da tortura (deve assistir todos os episódios da série estadunidense 24 horas nos finais de semana ou será que passou a fazer a apologia de tal crime por ele ser defendido em outros lugares? quais? o leitor desconfia de alguns? isso mesmo, acertou). Deveria, o viúvo-líder, tomar coragem e se mudar para Guantánomo e  trabalhar como torturador dos órgãos de repressão estadunidenses. Mas não: como seria motivo de riso por lá, fica por aqui e nos tortura com as bostas que produz achando que o parlamento é um banheiro e nossos ouvidos, os vasos. É hora deste viúvo  já ir. Basta, Narradores de histórias no futuro hão de falar das mães e avós da Praça  de Maio e nos fazer rir das viúvas e viúvos das ditaduras. "Está na hora de você já ir, Bolso, na roda da vida nada fica, tudo passa, tudo morre, até as ditaduras que se queriam eternas". De direita e de esquerda. Volver!!!
           

domingo, 3 de abril de 2011

HERANÇA

Ganhei, porra!
bendito bolão do "biguebrode"!
e já que agora enriquei
e penso no verde
e me preocupo
com a sustentabilidade
dessa bola azul
resolvi seguir a onda
entrar de vez na moda
seguir, finalmente, a maré:
deixo aqui por escrito
minha herança
meu bem mais resistente
para os cachorros,
meus amigos vira-latas
(posto que nenhum
 de raça me adotou),
poderão, mais tarde,
meus amigos caninos
andar por aí
com meus ossos pela boca
depois, é claro,
das minhocas
fazerem a festa
com as carnes mortas.
Será que elas podem comer gordura
ou vou ter que manter a dieta?

Rio, 03/a4/2011 (2h26m)
                                                    
Rock da cachorra (Eduardo Dusek)