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quarta-feira, 6 de abril de 2011

NO TEMPO DOS PARDAIS, A NOSTALGIA

Ainda estávamos na ditadura pós-1964, mas por saudosismo, nostalgia ou por escapismo, a canção brasileira nos falava de um tempo mais feliz que havia se perdido, de um tempo em que ainda havia bondes e fadas e dama e margaridas. E a  canção que  sonhava com o passado também denunciava o momento cruel de um capitalismo que urbanizava tudo de uma forma autoritária. Mas a canção também delirava  e desejava tempos novos, onde  redescobririamos o "tempo dos pardais". Pelo menos era assim que eu ouvia a canção de Sivuca e Paulinho Tapajós. E era na voz contundente e triste de Fagner (acompanhado da delicadeza de Sivuca). E eu, meio que perdido, era um ouvinte voraz da MPB. Foi ela, através de seus compositores, cantores e instrumentistas, a principal responsável pelo meu desejo de buscar a poesia e um olhar crítico tanto do poder que nos ofendia quanto das relações pessoais. Coisa esquisita: canções que além de emocionar e divertir nos fazia pensar e buscar um mundo novo. O escapismo na verdade era a fonte do estar no mundo e de vivê-lo radicalmente. Era um falso e doce escapismo.

Desculpe o leitor a nostalgia, mas hoje ouvindo a canção "No Tempo dos Pardais" fui realmente tomado por elas, a nostalgia e a canção. Também já era tarde quando resolvi ler uma poesia postado no Blog "Angola: os poetas", e ao ler me lembrei da canção e procurei ouvi-la na Internet. E o fiz inúmeras vezes, como faço com as canções que me (co)movem. Resultado: a nostalgia fez da casa o seu império. Para desafogar um pouco, resolvi postar a canção aqui, talvez seja uma forma de limpar o blog que ontem tratou da boçalidade (veja o texto "Bolso, o Viúvo...").  Ou talvez seja a vontade cruel de fazer os mais velhos ficarem nostálgico como estou agora e os mais novos com a saudade do não-vivido (uma doce inveja), do tempo em que os rádios tocavam canções, apesar de todos os pesares que era viver na ditadura burguesa e militar brasileira. Segue um vídeo com a canção e a letra.
No Tempo Dos Quintais
(Sivuca Paulinho Tapajós)

Era uma vez um tempo de pardais
De verde nos quintais
Faz muito tempo atrás
Quando ainda havia fadas

Num bonde havia um anjo pra guiar
Outro pra dar lugar
Pra quem chegar sentar
De duvidar, de admirar
Havia frutos num pomar qualquer
De se tirar do pé
No tempo em que os casais
Podiam mais se namorar
Nos lampioes de gás
Sem os ladrões atrás
Tempo em que o medo se chamou jamais

Veio um marquês de uma terra já perdida
E era uma vez se fez dono da vida
Mandou buscar cem dúzias de avenidas
Pra expulsar de vez as margaridas
Por nao ter filhos, talvez por nem gostar
Ou talvez por manias de mandar

Só sei que enquanto houver os corações
Nem mesmo mil ladrões podem roubar canções
E deixa estar que há de voltar
O tempo dos pardais, do verde dos quintais
Tempo em que o medo se chamou  jamais

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