Amigos e/ou Leitores

domingo, 7 de agosto de 2016

DA AMIZADE ( O AMIGO, AMIGA)

Um poema para uma amiga com o qual compartilho o viver há mais de 20 anos, antes mesmos dela abrir seus olhos e marcar minha memória com o seu primeiro olhar. Amiga que antes mesmos de me ver ou ser vista por mim já me envolvia de sentimentos e emoções. E que um pouco mais tarde, que com seus olhinhos de criança compartilhou algumas leituras de livros e letrinhas de canções e que, ainda há poucos dias, pude dividir com ela uns trechos do texto O Amigo, de Giorgio Agamben, fonte inspiradora do poema. Este poema poderia ser dedicado para muitos amigos que compartilham também seus olhares e o resto de suas existências comigo, mas é para Lívia Maíra, cujo o olhar carrego comigo, que pensei, ao escrever o trecho final, que dedico o poema. O amigo, amiga.

Compartilhamos. Não compartilhamos.
Amigos assim somos
assim, amigos nos constituímos.
Não porque compartilhamos os pães,
embora o façamos.
Nem tão pouco porque compartilhamos os lares.

Menos ainda, pela partilha das festas e seus salões
e seus risos
gargalhadas
e lágrimas.
Danças, canções, brindes
comemoram a amizade,
mas não produzem amigos.

Ou dos cemitérios e suas dores
suas lágrimas
suas mágoas.
seus gritos
e risos.
Cortejos, sentinelas não nos fazem
nem velam ou encerram amigos.

Amiga, amigos somos
pois compartilhamos a existência.
E só somos, depois de amigos,
nesta existência
onde dois são um
onde um é dois

Somos amigos, amiga,
na divisão da mesma existência
na multiplicação do mesmo existir.
Viver existindo em dois
existir vivendo em dois
dois que é um
um que são dois.

Existir, amiga, em ti
viver em mim.
Viver em ti
existir em mim.

Moeda que respira, age, sente
faces somos desta moeda
que circula,
rola,
para
e se move novamente.

Somos amigos
no compartilhamento
da moeda preciosa.
Somos duas caras
sem coroa
Sem preço.
Compartilhamos o apreço
e só assim
apenas assim
somos.

Jorge Willian

Rio, 23 e 26 de julho de 2016

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