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domingo, 25 de janeiro de 2015

AS CORDAS



Acorda, lá vem o dia
e ele te sacoleja
te querendo desperto
a corda de seu velho relógio
acelerou o tic-tac repetitivo 
seu compasso se perdeu
ficou apenas esta disritmia melancólica
mas a cor deste dia te chama:
acorda!
levanta, escove e passe a corda
entre os dentes
que o dia te ordena um sorriso
e a cara de felicidade estampada
que lá fora te esperando
balança a corda do dia
enfia vosso pescoço
agradeça ao sol e sorria
balance pendurado no tempo
este que não é teu nem meu
e sorria
um defunto triste desagrada
sorria que a noite chegará
depois, porém, do trânsito que te levará
para o matadouro diário
depois, porém, do afago falso dos amigos
depois, porém, do esporro rancoroso
de vosso patrão rancoroso
acorda, dormirás no balanço da condução
dormirás o dia inteiro acordado
amanhã será outro dia
e sua nova corda já está sendo trançada
teu pescoço novamente ornamentado será
acorda.

Ou acorde diferente
mande tudo às favas!
acorde de verdade
e retire as cordas de vossa vida
desacelere o tic-tac
crie seu compasso
gargalhe
ria
sorria
gargalhe
retire as cordas dos galhos dos dias
retire as amarras
os grilhões
e os grilos
veja este ritmo perdido
sem corda, sem ponteiro
sem seta
sem meta
sem veto
sem certo ou errado
acorde!
não porque o dia manda
que nem precisa ser dia para acordar
acorde...
que por agora
deitar-me-ei outra vez.
acorde, deite-se do meu lado.

Rio 15 de dezembro de 2014
(05h e 41m)

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