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segunda-feira, 20 de junho de 2011

AOS MESTRES, COM CARINHO (ESPECIALMENTE À MERCEDES)

A EDUCAÇÃO PÚBLICA  ESTÁ EM GREVE... OUTRA VEZ
 "Não pense que a cabeça aguenta se você parar/(...)/ Tente/ E não diga que a vitória está perdida/ Se é de batalhas que se vive a vida/ Tente outra vez" (Seixas, Motta e Coelho)

Esta postagem expressa um pouco do sentimento que muitos sentem em relação ao descaso de nossa sociedade com a Educação Pública. É um sentimento ressentido, um ressentimento pelo desprezo que a sociedade quase como um todo demonstra pela criação de nossas crianças e jovens e por aqueles que tem a função e compromisso de trabalhar diretamente com o ato de educar.

Há pouco tempo todos vimos a mobilização justa da sociedade em prol das reivindicações dos bombeiros. Fitas vermelhas se espalharam pela cidade. Uma delas carrego pendurada em minha mochila. Creio que se a metade deste apoio fosse dada às diversas mobilizações realizadas pelos profissionais da educação nos últimos trinta e dois  anos, a Educação Pública do Rio de Janeiro (cidades e Estado) não teria perdido tanto em qualidade como constatamos hoje. Ainda não ficou pior porque os seus profissionais insistem na defesa de suas vocações. Mas esta não é um sacerdócio, é uma profissão que precisa e deveria ser muito bem remunerada.

Em 1979 era eu aluno de uma escola municipal da cidade do Rio de Janeiro e descobri que não era apenas os metalúrgicos de São Paulo que sofriam a exploração capitalista e a dominação de uma ditadura que já caducava (embora ache eu que toda ditadura já nasça caduca). Os professores também sofriam. Aqui no Rio de Janeiro, na velha Escola Muniucipal Pará, um grupo de professores participava bravamente da greve da categoria dos educadores. Lembro ainda hoje com muito carinho da jovem professora de Língua Portuguesa, protestante tanto na religião quanto em sua bravura, mas que no final da greve estava ressentida com a falta de apoio da sociedade e com alguns colegas que se acovardaram. Esta greve teve até algumas conquistas que agradaram os profissionais da época. Mas em mim, o que marcou até hoje foi  perceber que aqueles que me davam aulas eram como os demais trabalhadores e não uma casta superior e intocável. Ser professor e ser parte da classe trabalhadora deixou de ser uma contradição para mim. Pelo contrário, passou a ser um exemplo de boa profissão... E eu que, ainda jovem, pensava que lutar politicamente era coisa de estudantes iranianos e de homens barbudos das montadores de carros de São Paulo.  A jovem professora, a única a falar sobre a greve quando esta findou, marcou ainda mais o meu imaginário. Ela  me daria ainda naquele ano duas outras boas lições de cidadania: a defesa das mulheres contra o machismo da linguagem usada por mim e o respeito à cultura popular ao "dar doce" mesmo sendo protestante (explicou-me que achava bonito as crianças correndo atrás dos doces e que só tinha o cuidado de não comprar saquinhos de doces com imagens católicas).

Os professores entram jovens em suas profissões, passam anos cuidando de crianças e outros jovens. Amadurecem e os cabelos branqueiam (mesmos com as tinturas disfarçando a marca do tempo na cabeça de alguns mestres). As salas de aulas são durante anos a maior parte do mundo dos educadores. Mesmo na sala de suas casas e nos seus quartos, a escola se faz presente: preparação de aulas, correções, preocupações com o menino ou menina que não aprende ou cujo comportamento precisa ser retrabalhado... Tudo isso e muito mais faz da profissão do professor algo especial, uma boa profissão... E, além disso, cada vez mais os professores são atacados pelos governos de plantão. E pais. E estudantes. É redução dos direitos à aposentadoria, é congelamento salarial em um mundo de inflações cada vez maiores (principalmente nas cestas de alimentos). É a tentativa de desqualificar o saber de quem está na sala de aula através de interventores pedagógicos. É um diretor autoritário não eleito por ninguém dizendo que o seu cargo é de confiança (do governo e não da sociedade). É é a falta de vale transporte ou de alimentos. É um turbilhão de propostas pedagógicas misturadas e um outro turbilhão de projetos impostos. É o caveirão adentrando as favelas e pondo em risco alunos e profissionais.   É a sociedade dizendo com o seu descaso: "bem feito! quem mandou querer ser professor..." É um inumerável tipo de questões fazendo com que a saúde mental dos professores passe a ser um dos maiores problemas da profissão (a síndrome de Burnet, no caso dos professores, ataca muito mais o psicológico do que o físico). Resumindo: é uma boa profissão para a sociedade, mas bastante maltratada.


O interessante, porém, é que os mestres continuam a nos dar lições com as suas lutas. Hoje a jovem professora Mercedes deve estar com alguns cabelos brancos e já não sei se ainda leciona, mas este seu aluno ainda traz consigo um pouco das aulas de português (os erros aqui presente não tiram os seus méritos) e muito de seus exemplos, principalmente da boa conjugação dos verbos questionar e lutar no presente do indicativo e no futuro.

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O vídeo abaixo retrata um pouco da questão que todos já conhecemos




Tente Outra Vez
( Raul Seixas / Marcelo Motta / Paulo Coelho)

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...

Beba! (Beba!)
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!...

Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
Bailando no ar

Queira! (Queira!)
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!

Tente! (Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!...

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