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domingo, 11 de março de 2012

O SILÊNCIO LÁ FORA

Estação de esqui fica coberta pela neve em Winterberg, na Alemanha Leia mais

Ainda não neva, mas o frio intenso afasta a vida das ruas. Preciso de uma bebida bem quente, mas para isso tenho que levantar e sair debaixo do cobertor. Bem que poderia ter alguém  agora para tirar o leite da geladeira e preparar um chocolate para mim. Mas não há ninguém  aqui, preciso me virar sozinho.

Preciso ver como está o tempo lá fora. Vou olhar da janela. Nossa, tudo está tão deserto! Ninguém a andar pelas ruas, só consigo ver o silêncio que espera pela neve, e ele também parece me ver. É frio, é muito frio, é de gelar os ossos e as primeiras neves caem agora. O silêncio que me olha lá fora parece dizer o meu nome. Penso em convidá-lo para entrar- entre paredes sempre é mais quente!- mas ele espera que eu saia e vá ao seu encontro. Levanto a caneca a lhe oferecer um pouco de chocolate bem quente, como pede a ocasião. Mas não é isso o que ele quer. O silêncio deseja que eu o acompanhe nesta madrugada fria por essas ruas que pouco conheço e que se cobrem de neve. Eu lhe ofereço o aconchego das paredes protetoras e ele me chama para as ruas frias, solitárias e desconhecidas. Ele é louco, claro que não vou ceder.

Mas apesar do frio intenso que se fez mais forte agora, não sinto vontade de voltar para a cama e ficar sobre o cobertor. Curioso estou em saber o que faz o silêncio preferir a madrugada fria e deserta. Já não dá para ver seus pés. A neve os escondeu. Distraído, o silêncio não percebe que ainda o estou a observar. Ele pula e quando volta ao chão espalha flocos de neve para o alto. E ele parece mesmo se divertir, seu rosto parece estampar um belo sorriso. Ele olha para a minha janela e, de repente, deixa de pular e seu rosto torna-se sério, quase que sombrio. E, novamente, ele parece me convidar para ir ao seu encontro. O que ele deseja realmente? Não consigo deixar de querer perguntar. Mas o frio é cada vez mais intenso e não pretendo abandonar o meu conforto só para ir ao encontro de um silêncio meio doido que fica pulando escondido. Ah, não, claro que não vou ceder! Quero mais uma coberta.

Tive uma ideia: vou apagar a luz e ver se o silêncio volta a brincar se achar que não o estou espiando. Ele está meio desconfiado, mas o seu rosto já parece sorrir. A neve cai mais forte e ele começa a pular ainda mais alto do que pulava na primeira vez e ele agora se joga na neve, mergulha feito criança. É muito louco o silêncio e como se diverte sozinho. Ele até parece que está gargalhando, mas dizem que o silêncio é silencioso- deve ser fruto da minha imaginação esses gritos alegres que agora ouço. Dá uma vontade de ir lá fora brincar com ele. Mas está muito frio. E, se aqui dentro está assim, como não deve estar lá fora? Não, não, vou ficar aqui mesmo. 

Ah, se não estivesse tão frio! Acho que eu e o silêncio íamos nos divertir muito. Se sozinho ele já é tão alegre, imagine se eu estivesse junto dele. Mas não é que o frio aumentou ainda mais e olha que já peguei mais duas cobertas. E as gargalhadas do silêncio já são tão intensas que não me deixarão dormir. Meu deus, ele agora está realmente gritando. Precisa gargalhar assim? Ir lá fora reclamar com ele eu não vou. Aqui está esse frio todo, lá fora a vida deve ter virado gelo. Mas com esses gritos não dá. Vou abrir a janela e pedir silêncio a ele.

Não estou entendendo nada. Abri a janela e a rua está cheia de crianças brincando e nem um sinal de neve. Nossa que sol bonito!

Jorge Willian
Rio, 11 de março de 2012  (5h e 20m)

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