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sexta-feira, 25 de julho de 2014

OS SINOS BADALAM


(aos perseguidos políticos do Brasil de agora)

acabo de ouvir lá fora pequenos sinos tocando
e guizos e risos, e choros
e choros, e guizos e risos e sinos
tempos bicudos, diriam os antigos
sempre a nos observar da calmaria de onde estão
logo eles, tão acostumados
com prisões e torturas
eles, que tanto viram golpes e ditaduras
eles nos acham talvez em parte tolos
em nossos gritos de democracia
diante do dragão que nos traga e os tragou
utópicos ao sermos enjaulados
acusados de gritarmos quando foram calados
ingênuos ao caminharmos nas praças
e sermos acorrentados como foram
por pequenos passos arrastados
escrevermos poucas linhas na história
e nos colocarem cabrestos
emaranhados que nos destroem e os destruíram
tempos bicudos, eles viveram
morreram neles também
e nos observam da placidez de seus corpos sumidos
e nas comissões citam seus nomes
seus fins, suas dores ainda presentes
e eles nos observam em nossos gritos
passos e linhas cruzadas com as deles
juntos ainda somos tecidos
e nos tecemos assim
nos prendem e gritam eles  poder
presos gritamos também
para o povo
liberdade
para o povo
poder para o povo
que faz o pão
o prédio
o remédio
os sonhos
a escrita
esta que tecemos nos papeis
nas ruas
nos sindicatos, nas escolas
nas praças, nas camas
os antigos em sua calmaria de mortos
vivem nossas dores em nós
somos nós estreitos nós
e não estamos sós
para o povo
somos o que foram
são o que somos
jovens na velhice deste continente
tão desigual, tão cruel
caçador de sonhos
e somos seremos sonhos cassados?
não estamos sóis, nossas dores nos unem
os sinos sempre badalam... sempre.

Rio, 25 de Julho de 2014 (03 h e 22 min)
jorge willian

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