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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

QUE FAZER? A PERGUNTA QUE NÃO QUER SE CALAR

          A pergunta que dá título a esta postagem também nomeia um samba (veja a ingenuidade da letra abaixo desse texto)  que fiz em 1983. Usei o título na época com a intenção de lembrar do líder da Revolução Russa de 1917. "Que Fazer?" dá nome a dois livros antigos da Rússia,  um de Nicolau G. Chernyshevscky, que viveu entre 1829 e 1889, o outro de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lênin (ou Lenine). Líder do partido Bolchevique, Lênin utilizou o mesmo título do livro de Nicolau para tentar nos dizer que o que era necessário fazer para resolver a grave situação das massas trabalhadoras era construir uma organização revolucionária que pudesse, de forma aberta e/ou clandestinamente, liderar os proletários (e os camponeses) em uma luta contra a opressão e contra a exploração do mundo capitalista.

Lênin é as vezes tratado como autoritário, centralizador. Mas a  sua proposta defendia a existência de uma ampla democracia interna no interior da organização partidária para as tomadas de decisões e uma ampla disciplina no respeito a estas mesmas decisões. Assim, o que era decidido coletivamente tinha que ser encaminhado por cada membro da organização, é o que chamam de centralismo democrático. No entanto, em período de repressões políticas, as decisões não podiam ser tomadas desta mesma forma sem que se colocasse em risco a vida de todos. Daí a necessidade do partido ter que atuar diversas vezes também de forma clandestina. Nesses momentos de repressões, a direção formada por um pequeno grupo escolhido em congressos da organização, tinha que tomar as decisões e repassá-las para os demais membros que as executariam. O partido em perído de grande repressão seria, portanto, formado por um grupo dirigente e por aqueles que colocariam em prática as decisões. Os dirigentes, porém, tinham que levar em consideração as decisões tomadas em congressos, pois estas é que deveriam dar o rumo a ser tomado pelo partido. E é bom repetir que nos congressos haveria também a escolha dos dirigentes. Em 1917, ano da Revolução Socialista na Rússia, as bolcheviques contavam com milhares de filiados.

O modelo de partido pensado por Lênin foi bastante eficaz na luta contra a ditadura do czar russo e permitiu comprovar que era possível derrotar naquela sociedade o capitalismo, que, como já havia pensado Trotski, era um dos elos fraco do capitalismo mundial. Este último revolucionário- que a princípio se colocou contra o modelo partidário pensado por Lênin, mas que depois o achou o mais eficaz-  havia pensado desde 1906 que a revolução socialista poderia se iniciar na antiga Rússia, mas nunca que nunca poderia ficar limitada nas fronteiras deste país, como defendeu outro revolucionário do período que passou a ser seu adversário político a ponto de mandar matá-lo, Stálin. O modelo pensado por Lênin foi utilizado em diversos partidos socialistas do mundo, inclusive pelos chamados trotsquista e stalinistas. No entanto, as revoluções socialistas posteriores tiveram modelos diferentes de organizações revolucionárias. Em todas elas, porém, houve algo em comum: a luta armada. Até porque a burguesia não entrega o poder através do voto (vide o ocorrido no Chile na época de Allende). Ela conquistou o poder se utilizando da força bruta e da força das ideias. O que seria do velho iluminismo sem o povo nas ruas tomando a Bastilha e suas armas? Quantos anos de combate revolucionário a burguesia inglesa não teve que travar até 1688?
          Que modelo de organização política cabe hoje no mundo para quem quer se insurgir contra as explorações e dominações que a "internacional capitalista" faz no mundo? Ficar diante de uma telinha ou levantando os braços diante do time preferido ou do pastor idolatrado não vale como resposta. Até porque não me parece que esses modelos sejam para quem quer se rebelar. Investir na carreira e individualmente acumular capital também não é uma resposta para a pergunta que pressupõe um projeto  coletivo (organização política). "Que fazer?" esta ainda é uma pergunta importante e que temos dificuldade em responder. No entanto, os problemas do mundo capitalista se ampliaram para os trabalhadores. O desemprego continua, a criação de um exército de reserva de mão-de-obra também. Ampliação das desigualdades sociais,  fome,  marginalização de uma parte da sociedade, guerras imperialistas, falsa liberdade de imprensa, ditaduras, democracias que são, na verdade, ditaduras do grande capital, escravidão sexual de mulheres na Europa capitalista... poderíamos ficar citando durante umas 10 páginas. Mas a pergunta não que se calar: QUE FAZER?


                Que Fazer?
Maria, vê se não esquece
De me acordar às cinco
Que tenho que pegar às sete
No batente. Minto!
Não precisa me acordar mais, não
Que eu estou desempregado:
Hoje o patrão mal humorado
Me mandou embora
Sem qualquer razão.

Não sei o que fazer, Maria,
Pra sair dessa situação.
É que o país do milagre e mordomia
Está há muito na recessão.
E um país nesta situação
Só tem então, Maria,
Desemprego, miséria, fome,
Roubo, polícia e prisão.
"Olha oszome!!"
"Chame o ladrão"
O que fazer, Maria?
Que fazer?

Rio, 17 de Setembro de 1983         

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