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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

11 DE SETEMBRO, UMA DÉCADA

Lembro que estava em uma escola pública e soube no intervalo que ocorrera um acidente com um avião. Ele havia perdido a direção e chocara-se com um prédio. Era em Nova York e parecia distante, mas era bem próximo, na verdade. Era aqui dentro.  Soube depois de outro avião que também se chocara contra um segundo prédio: era um ataque terrorista, disseram, e iniciava-se a década, o século e terceiro milênio. Mais tarde ouvi dizer que fora Osama  bin Laden, o terrorista que fora apoiado pelos EUA na luta contra a invasão soviética ao Afeganistão. Ouvi dizer também que houve uma implosão (ver o segundo vídeo no final da postagem) que se articulou com o ataque dos aviões em uma espécie de prova da teoria da conspiração.


Não era a primeira vez que um ato terrorista acontecia nos Estados Unidos da América, mas era chocante ver as imagens dos aviões explodindo nos prédios e, consequentemente, os derrubando. Lembro ainda de ter corrido para chegar em casa em busca de informações. Liguei a  televisão e fui absorvido pelas imagens. O caçula, com seus dois anos, chorava fazendo manha  e querendo atenção. Mas os olhos estavam vidrados nas imagens. Nossa, Alguém jogou-se do prédio!!! O olhar lacrimejou e, sem controle, chorei. O caçula percebeu que algo bem diferente acontecia com o pai naquele dia. Esqueceu da manha e, solidário, disse com a voz de criança: "Chora não, pai". "O que foi?" O que dizer nesta hora a uma criança quando não sabemos nem o que pensar? O que eu disse?  Não lembro. Tudo ficou tão confuso dentro de mim, assim como no mundo. E a confusão, há de se concordar, ainda permanece.

A história nesse dia negava a "tese do fim da história" iniciada por Hegel e retrabalhada por Francis Fukuyama desde a queda do muro de Berlim e da derrota dos países ditos socialistas.  No entanto, o 11 de Setembro demonstrou que era apressada a ideia de que o liberalismo e o capitalismo reinariam sem entraves e que, portanto, a história chegara ao equilíbrio e ao fim. Na verdade, a era Clinton e o crescimento econômico dos EUA já se mostravam esgotados. O neoliberalismo já produzira mazelas suficientes que dificultava a continuidade do ritmo de uma acumulação tão violenta de capital nas mãos de alguns sem que isto gerasse revoltas. Além disso, Bush filho havia sido eleito sob suspeita de fraudes e a crise de legitimidade começava a devorá-lo. O ataque terrorista até que lhe deu algum gás e um programa de governo para se recuperar. Invadir países considerados inimigos foi a principal resposta alimentada pelo nacionalismo e pela sede irracional de vingança e petróleo. Assim, o pouco de liberalismo político do país fundado em 4 de Julho foi posto de lado: prisões de populares que pediam paz, fortalecimento de grupos de direita, reeleição de Bush, invasão do Iraque baseada em provas falsas, torturas como método de Estado, maior fechamento das fronteiras e aeroportos americanos, prisões ilegais, perseguição de turistas, xenofobia. Tudo isso foi regado com muita verba (e dívidas) gastas em armas e em soldados. 

Muita verba, muitas armas, muita tecnologia e muitos soldados. Objetivo declarado era derrotar o terrorismo que ameaçava a nação estadunidense.  Prenderam e condenaram Saddam Hussein, mataram Osama bin Laden, mataram milhares de iraquianos e...  e, até agora, o resultado parece ser uma vitória de Pirro. Conseguiram afundar a economia, e a resistência dos inimigos ainda atrapalha o sonho americano de uma guerra rápida e com poucas baixas. Assim diminuiriam custos e os protestos domésticos. Mas não contaram com a resistência árabe e nem com os suicídios de seus soldados (as cifras oficiais contam 32 suicídios  só no último mês de Junho).

A  guerra rápida seria o sonho que também permitiria uma atuação em outras áreas do mundo. Dez anos de guerra no mundo Árabe facilitou um descontrole da política americana em outros lugares. Não é atoa que   tiveram que reativar em Julho de 2008 a IV frota para patrulhar as águas da América Latina. Venezuela, Bolívia, Argentina e até mesmo o Brasil se mostraram mais autônomos em relação ao controle dos chefes do norte. Não precisa ser um estrategista militar para saber que economia é importante para a guerra e que a política do porrete usada em todos os lugares não pode ser feita ao mesmo tempo.

Gastos gigantescos com guerras, propostas de mais guerras como solução para as crises, vitórias de Pirro, criações de novos inimigos ideológicos, mais gastos militares, crise estrutural da economia lideranças políticas sem projetos e com pouca legitimidade, aumento da dívida externa, concorrência econômica provocada pelo desenvolvimento chinês, manutenção das redes terroristas... problemas e mais problemas do maior império militar da história que a primeira década que se iniciou no 11 de Setembro deixaram claro ou fizeram nascer. O fim de uma história sempre é o início de outra. O bom e velho mano Caetano disse ainda no século passado que: "Americanos sentem que algo se perdeu/ Algo se quebrou, está se quebrando". Será que sentem?

Uma década passou rápida e a confusão instalada por ela inaugurou o século XXI. Será o da decadência estadunidense? Ninguém tem certeza de como acaba esta confusão, mas por aqui já começamos a trocar os hambúrgueres do McDonald´s pelo yakisoba  do China in Box. Mera coincidência?


       

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Em tempo: um dos motivos do prejuízo econômico com a guerra é o fato  dos EUA estarem usando mercenários. Empresas são contratadas para fazer o que chamam de segurança, mas na verdade fazem  a guerra. E os mercenários contratados por elas recebem muito, muito bem, principalmente se forem americanos e ainda geram lucros para as empresas que os contrata. É claro que o uso de mercenários em guerras é considerado ilegal por resoluções da ONU...mas  o governo estadunidense não se importa com a opinião deste órgão internacional.

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