Ele disse assim naquela noite: "façam isto em meu nome e no dele". Em seguida, subtraiu de cada um que observava tudo o que pode. Retirou-lhes a saúde, o tempo, o pão, a poesia, a alegria, a reflexão, a casa... tudo, tudo o que pode. E tudo foi entregue ao deus no ritual dos cifrões. E, como o fogo que a tudo consome e de tudo se alimenta, O deus agigantou-se, expandiu e foi tragando, incorporando tudo que estava a sua volta.
Ainda hoje, muitos banqueiros, industriais, fazendeiros mantem o ritual de retirar tudo que podem dos que criam os pães, as casas, as fábricas... tudo. Ainda hoje, eles entregam ao fogo do deus capital o sangue, a carne, a juventude , a vida dos trabalhadores.
Ainda hoje, eles e seu deus contam com ajuda de diversos servos e servas. A ignorância talvez seja a mais fiel, pois não permite que se pense contra o deus capital. Ou talvez seja as forças policiais, estas que impedem as revoltas e jogam os infiéis mais rapidamente no fogo consumidor do ritual. Ou quem sabe, o mais fiel mesmo seja o sacerdote, este que usa diversas máscaras, como as de pastores, mestre-escola, filósofos, economistas, artistas, jornalistas... estas máscaras que pregam o amor e a subordinação ao deus capital.
"Ajoelhados, repitam- diz o sacerdote- O Patrão nosso de cada dia, Amém. O capital de ontem, hoje e amanhã, hosana!"
Enquanto isto, almas ainda queimam no fogo que se alimenta.
Rio, 04 de maio de 2014
03 horas e 04 min.
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