Amigos e/ou Leitores

domingo, 4 de maio de 2014

O RITUAL

Ele disse assim naquela noite: "façam isto em meu nome e no dele". Em seguida, subtraiu de cada um que observava tudo o que pode. Retirou-lhes a saúde, o tempo, o pão, a poesia, a alegria, a reflexão, a casa... tudo, tudo o que pode. E tudo foi entregue ao deus  no ritual dos cifrões. E, como o fogo que a tudo consome e de tudo se  alimenta, O deus agigantou-se, expandiu e foi tragando, incorporando tudo que estava a sua volta.

Ainda hoje, muitos banqueiros, industriais, fazendeiros mantem o ritual de retirar tudo que podem dos que criam os pães, as casas, as fábricas...  tudo. Ainda hoje, eles entregam ao fogo do deus capital o sangue, a carne, a juventude , a vida dos trabalhadores.

Ainda hoje, eles e seu deus contam com ajuda de diversos servos e servas. A ignorância talvez seja a mais fiel, pois não permite que se pense contra o deus capital. Ou talvez seja as forças policiais, estas que impedem as revoltas e jogam os infiéis mais rapidamente no fogo consumidor do ritual. Ou quem sabe, o mais fiel mesmo seja o sacerdote, este que usa diversas máscaras, como as de pastores, mestre-escola, filósofos, economistas, artistas, jornalistas... estas máscaras que pregam o amor  e a subordinação ao deus capital.

"Ajoelhados, repitam- diz o sacerdote- O Patrão nosso de cada dia, Amém. O capital de ontem, hoje e amanhã, hosana!"

 Enquanto isto, almas ainda  queimam no fogo que se alimenta.

Rio, 04 de maio de 2014
03 horas e 04 min.

Nenhum comentário: