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quinta-feira, 22 de maio de 2014

PÉGASO

I
Poesia?
queres sentir a poesia?
o teu querer é mais que metafísica
é delírio crédulo
de cavalo unicorne voador.

Olhe o concreto da parede que te abriga
do prato e da comida que te alimenta
do agasalho e do sapato que te aquecem
esquece agora esse delírio que chamam poesia.

II
Poesia
Há nos lagos, mares , céu
também na armação de tijolos
escondida pelo reboco e sua pintura.

Poesia há também na transformação
da areia em vidro
do vidro em prato
e em tudo que nele se põe
e nos dentes, na língua e saliva
e nas mãos que plantaram

Há poesia nos olhos
tristes dos agonizantes
ou alegres dos que, felizes, cantam
a correspondência do amor
Há poesia onde olho.

III
Todas  as coisas
do poeta
são poesias

O poeta:
a medida de todas as coisas

E a coisa poesia
é a coisa desmedida
do poeta.

E é desmedida a coisa
desse poeta?
E havendo a medida
a métrica
na poesia?

IV
Apostemos nesta métrica
a da poesia desmedida
assim como
o desejo de devorar
de comer
de deglutir
de mastigar
de engolir
de saciar
não meramente a fome
de imagens etílicas
e sim de paixão
pelos dedos e estômagos
de quem faz o pão
os tetos
as ruas
os papéis
os poetas
concreto
que sem pégasos
nos permitem.

Jorge Willian

Angra dos reis, 25 de maio de 1998 (23 h e 45 m)


imagem: http://www.wirelady.com/berrienwireunicornpage.html




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