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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ALGUMAS CANÇÕES AFRICANAS

                                                     (Zenzile) Mirian Makeba ou
                                                               "Mama África

No princípio, quando a "verba" ainda não fizera da África do Sul uma terra do futebol bilionário da FIFA, quando o líder negro Mandela era um prisioneiro e descendentes europeus controlavam o país, a luta contra o aparthaid servia de reportagens apresentadas quase todos os dias nas nossas televisões. O povo negro africano "lutou, morreu", enterrou seus mortos e cada cerimônia de enterro era um novo protesto regado com sangue, bravura e músicas.

Um dos nossos maiores artistas, o alagoano Djavan nascido no mesmo estado da Serra da Barriga onde surgiu o Quilombo dos Palmares, gravou algumas destas canções em discos primorosos da década de 80. Gravações de uma época em que ser politicamente correto era ser politizado e/ou lutar por uma causa que se considerasse justa. E Djavan não estava só entre os cantores brasileiros que se preocupavam com os irmãos africanos. Clara, Martinho, Nei Lopes são exemplos  de artistas com esta preocupação. Em todos eles, a arte da melodia é interligada à arte da poesia social. Neles a práxis se fazia na própria arte. Artistas e intelectuais populares (no fazer e para quem fazer) eram uma só coisa.

Na véspora do dia 20 de novembro (dia usado para se comemorar Zumbi e repensar as relações sociais que também se baseiam em diferenças de etnias) creio que uma bela proposta para se pensar a beleza do povo africano seria retomar as suas canções e as suas línguas. Abaixo podemos ler a letra de uma canção africana. Podemos ouvir também a melodia e a pronúncia da letra cantada por Djavam no primeiro vídeo e pelo mesmo com acompanhamento de Lokua kansa no segundo. Vale a pena ouvir até o final as belíssimas canções. Vale também consultar o blog "Angola do Outro Lado do Tempo" onde se encontra um pouco da nossa história. É só ir na coluna "Vale Consultar" e clicar.
 
Nkosi Sikeleli Africa
Malup hakanyiswu phondolwayo
Yiswa imithanda zo yethu
Nkosi Sikelela
Thina lusapolwayo
Nkosi Sikeleli Africa
Malup hakanyiswu phondolwayo
Yiswa imithanda zo yethu
Nkosi Sikelela
Thina lusapolwayo
                                                             



Felipe Mukenga é o compositor das duas canções
( Nvala e Humbiumbi) cantadas por Djavan e Lokua Kansa.


4 comentários:

Bianca Garcia disse...

Olá, Jorge! Tive o prazer de ir a um show do Lokua Kanza aqui em Brasília, se a memória ainda me permite lembrar, foi em 2005, numa Feira de Música Independente que aconteceu aqui. Lembro-me que também não conhecia absolutamente nada da música africana e gostei bastante do som dele. Ainda guardo com carinho o CD dele autografado.

Adorei seu texto!

Abraço.

Rodrigo Fernandes disse...

Belo texto, Jorge.

Infelizmente nós (e o mundo) conhecemos muito pouco da cultura africana. Fela Kuti, por exemplo, é um nome que impreterivelmente merece ser conhecido. Além de extraordinário músico - vale muito à pena correr atrás dos discos do cara, estão entre as melhores coisas produzidas nas década de 70 e 80 - sua história de vida é digna de um filme épico. Chega a ser irreal.

Um livro absolutamente necessário para se entender a África atual é "O clube do bangue-bangue". Um relato interessantíssimo de um grupo de fotógrafos que saem para fotografar a guerra civil da Africa do Sul no período mais duro e violento do apartheid. O livro é tão importante que ganhou uma introdução assinada pelo Desmod Tutu. É ao mesmo tempo chocante e fascinante. Nessa ordem.

Jorge Willian da Costa Lino disse...

Eu conheço também muito pouco da música africana. Mas, gosto muito do que consigo conhecer. Fela Kuti foi citado no disco novo da Vanessa Da Mata, na canção "Meu Aniversário" ("Vamos planejar um belo futuro pra logo mais/ dançar a noite toda/ Fela Kuti, Benjor e Clara). Ao ouvir a canção pensei:"preciso conhecê-lo". Mas o meu amigo que escreve no ótimo blog "ao Vinagrete" acaba de citá-lo aqui também. Preciso conhecê-lo mesmo e mais rápido. Deve ser coisa muito boa. Valeu Rodrigo, um abraço.

Rodrigo Fernandes disse...

Sem dúvida, Jorge,

Fela Kuti merece ser conhecido sim. Mais que um músico genial, o cara foi um revolucionário no sentido mais radical do termo.

Em tempo, a literatura africana também é bem interessante. Dos escritores que escrevem em português há os bons José Eduardo Aqualusa, Mia Couto e Ondjaki. São escritores conhecidos, bem urbanos e que fogem um pouco daquele esteriótipo de África "tribal". Creio que são uma boa porta de entrada para a literatura africana.