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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Escola, Disciplina e Democracia



Em fevereiro tem inicia mais um ano letivo das escolas da rede municipal da prefeitura do Rio de Janeiro. Um mar branco e azul de crianças se espalhará pela cidade. Suas vidas no futuro será extremamente marcada   pelos anos em que elas passarão pelas escolas. O vídeo do Pink Floid fala de uma realidade que muito marcou as gerações passadas. O autoritarismo era a principal característica das escolas. Ainda mais nas escolas de países que viveram anos de ditaduras ou que possuíam a visão religiosa e/ou cívica de que o sacrifício era mais importante do que o bem estar e a própria felicidade das crianças. Sorte  dos meninos e meninas atuais que não passam suas infâncias em escolas do mesmo tipo.

     Mas nem tudo são flores para a nossa juventude atual. Além da baixa qualidade do ensino que a sociedade lhe oferece, é dado aos jovens um falso poder que os faz se sentirem donos da escola/ do mundo e os transforma, às vezes, em aprendizes de ditadores egocêntricos. E, na maioria das vezes, com o aval dos país, dos diretores, das secretarias de educação, dos psicopedagogos e de juízes da infância. Estes ajudam a transformar O Estatuto da Criança e do Adolescente em um livreto de direitos sem deveres. E assim, professores tornam-se reféns de seus alunos. Muitos fogem da profissão escolhida e conquistada, outros lutam bravamente crendo na utopia de que podem fazer a diferença. Estes últimos, em sua grande maioria, acabam passando por constrangimentos e alguns até adoecem por isso. Se vivessem no Brasil atual, os membros da banda de rock Pink Floid fariam um vídeo onde as vítimas amedrontadas seriam os professores. Até porque estão acuados e perdidos no emaranhado de leis e de orientações pedagógicas confusas e contraditórias.

     A luta pela democracia no decorrer dos anos 80 influenciou positivamente as escolas públicas. No Rio de Janeiro, por exemplo, a cidade de Angra dos Reis melhorou a qualidade do ensino e obteve bons índices de aprovação de seus alunos sem criar as tais aprovações automáticas. Os principais fatores para que isto ocorresse foram o aumento salarial que atraiu, em seus concursos, profissionais altamente qualificados  e o processo de democratização das escolas implantado principalmente no início dos anos 90, mas que hoje já se desmanchou no ar, fruto da nossa democratização conservadora e da plutocracia que ganha corpo e cada vez engorda mais.

     Aqui na cidade do Rio de Janeiro, a luta dos profissionais da educação obteve vitórias no início dos anos 80, mas logo em seguida os mesmos profissionais sofreram derrotas impostas pela gerências dos senhores Marcelo Alencar, César Maia, Conde e, atualmente, do sr. Eduardo Paes. O mesmo se deu no Estado nas gerências de Moreira Franco, Marcelo Alencar, Garotinho-Rosinha Benedita e, agora, de Sérgio Cabral. Junto com a derrota econômica (salarial) imposta aos professores por esses governantes, vieram as derrotas democráticas e pedagógicas. Os atuais diretores, por exemplo, já não se dizem representantes das comunidades (pais, alunos, professores e demais funcionários) que os elegem- e quando há eleições. Ou melhor, que são apenas consultas, visto que hoje se alega que não há eleições de diretores e, sim, consulta à comunidade. A parte principal do discurso dos diretores de escola atualmente é que eles exercem um cargo de confiança dos prefeitos. Por isso mesmo, passam a implantar nas escolas do prefeito (sic) -e não da sociedade- aquilo que ninguém acredita e que ninguém sabe a quem de fato interessa. Pergunte aos professores, pais e alunos quem elabora as tais provas da prefeitura do Rio de Janeiro? Eles concordam com a implementação? Concordam com os seus conteúdos? Quem elabora o programa das disciplinas que chegam prontos e cheios de erros  nas escolas? E quanto pagamos para que se elabore e se imprima as tais apostilas? Qual é a gráfica que tanto ganha e não imprime seu nome e endereço no que faz? Por que se esconde?  Quem acha correto que nas chamadas Escolas do Amanhã se privilegie um  material de um tal projeto chamado de Cientistas do Amanhã? Nem a professora de Ciências que conheci concordava, mas tinha que implantar. Que empresa(s) fornece(m) este material? Quanto lucra(m)? Por que não privilegiar a língua portuguesa, a arte, o esporte e a Educação física? Qual foi o critério para a escolha desta prioridade? Que equipe genial de pedagogos elabora projetos sem consultar as comunidades e os os profissionais que trabalharão com tais projetos? A SME do Rio de Janeiro começa a ser conhecida no interior das escolas como uma secretaria projetista: tudo vira projeto e bem caros.

     As perguntas acima podem não ser tão relevantes para quem não viu a melhora de qualidade que teve a Escola Pública em um período recente onde a democracia no espaço escolar ganhava força. Hoje, este arremedo de democracia existente no país e nas escolas só fazem cair a qualidade de nossa Educação Pública. Imagine você, crianças que no sexto ano de escolaridade não sabem sequer ler palavras simples ("bala", por exemplo). Que chegam no Ensino Médio e, como presenciei em muitos casos, são analfabetos funcionais. Lembro agora de um aluno do terceiro ano do Ensino Médio que escreveu no meio de linhas cheias de erros um "popgtario" tentando escrever "proprietário". Ele não teve, e acho que você concorda, nem ensino elementar (que ia até a antiga quarta série), quanto mais o básico (o antigo segundo grau).

     É um crime o que fizemos (nós da sociedade) com esses jovens. Tiramos deles o direito constitucional à Educação. E, tendo "terminado" o tal Ensino Médio, eles só podem voltar a estudar se mentirem dizendo que nunca estudaram. Mas estudaram durante 12 anos ou mais, porém não aprenderam quase nada. O pior de tudo é que isto tornou-se corriqueiro nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. As secretarias municipais e estaduais de educação coagem os professores a aprovarem (empurrarem para frente) alunos que os mesmos em suas responsabilidade pedagógicas preferiam manter no mesmo nível escolar. As SMEs e SEEs trocaram o "E" de Educação pelo de empurração. Empurra para frente com a barriga que fica bonita nas estatísticas. Mas a vida não é estática e a ignorância tem seus reflexos nos temas das eleições e nas audiências dos BBBs da Globo. A verba da educação é usada para enriquecer empresas (editoras , empresas de transporte...) e, conforme sempre digo, para fazer da nossa sociedade um grande ABC/SA, ou seja, uma Associação Brasileira de Criadores de Semi-Analfabetos.

Durkheim, Foucault, Althusser tinham posições diferentes em relação ao mundo e à Sociologia, mas concordariam que a Escola é uma instituição que serve para impor as regras sociais, impor disciplina e permitir uma certa reprodução das relações sociais. resumindo: a escola serve, entre outras coisas, para a dominação social. Antes, como nos mostra o vídeo da banda de rock, o principal era a disciplina e conteúdos abstratos sem relação direta com a vida. Tivemos um pequeno período democrático em que currículos e disciplina eram, aos pouco, retrabalhados para se pensar as questões de nossa sociedade. Agora temos a indisciplina festejada e uma escola que pouco ensina e, principalmente, quase nada ensina de democracia e cidadania.

A ignorância hoje (e sempre !) permite a dominação e a exploração da grande maioria.  A nossa ditadura empresarial-militar teve que usar muito da força bruta para coagir os jovens estudantes de sua época. A lição que tiraram para manter a dominação foi "ensinar a ignorância" nas escolas (inclusive nas privadas). Só assim, a democracia não se torna uma arma do povo, mas uma arma contra o próprio povo. Diz a nossa presidente que a educação de qualidade será a prioridade de seu governo. Alguém acredita? Eu, não. 

Para Amanda, Assis e Talita, jovens professores de História em um período histórico de retrocesso  da educação popular. Para Alessandra, que realmente alfabetiza neste período impregnado de ABC/SA (Associação Brasileira de Criadores de Semi-Analfabetos). 

PS: Este texto foi escrito no início de 2011. Até agora a prioridade da educação só ficou no discurso. Alguma surpresa? 

(Jorge Willian)

3 comentários:

Giovana disse...

Conversei pessoalmente com vc sobre isso hj, acho incrivel a facilidade que vc tem de escrever. Te admirro por isso tb, como por tantas outras coisas.
Infelizmenete vc tem razão, hj os alunos"mandam" na escola. Quando se imaginaria que um aluno jogasse a cadeira no professor e NADA fosse feito nem mesmo pela direção, vc sabe do que estou falando....
Os nossos alunos sabem dos seus DIREITOS mas esquecem, ou fingem esquecer que eles tem deveres tb e a cada dia que passa eu vejo isso piorando nas escola, INFELIZMENTE

Assis disse...

Muito bom o texto Jorge!

Pois é..o quadro é cada vez mais desanimador. Infelizmente a ABC/SA está a todo vapor. O Sérgio Cabral está alimentando mais e mais suas fornalhas.

Unknown disse...

jorge vc é foda!!!!!!!!!!!!!!!!!!1