Amigos e/ou Leitores

domingo, 10 de outubro de 2010

JOHN LENNON E A CLASSE TRABALHADORA

Ninguém duvida que a classe empresarial domina a classe dos trabalhadores que vive de salários. Certo? Também não se duvida que essas são as classes fundamentais do nosso mundo. Correto? Um tema importante para pensarmos a dominação empresarial no mundo capitalista, que vai além da força bruta, é o controle ideológico produzido dentro desse mundo. Não?

 É lugar comum, falar da dominação ideológica  pensando na mídia, na Igreja, na cultura que perpassam todas as classes sociais. Mas é óbvio que o controle ideológico tem que ser necessariamente feito sobre a classe trabalhadora pois é esta quem produz toda a riqueza que, mais tarde, é repartida de forme desigual para toda a sociedade. E, nesta forma desigual de divisão, a menor parte cabe aos produtores da riqueza. Alguém duvida?

Sendo desta forma, acho que todos concordam que  a possibilidade de revoltas seria muito grande se o controle das massas trabalhadoras não ocorresse. Neste sentido, é fundamental o papel dos intelectuais na produção e divulgação de culturas que possibilitam convencer os trabalhadores ou desinformá-los. De modo geral, participam como produtores e divulgadores, o que o italiano Gramsci chamou de intelectuais orgânicos (diretamente ligados a uma das classes fundamentais da sociedade) e intelectuais tradicionais (que, se colocando como neutros, acabam por defender uma dessas classes). São eles os artistas, os professores, os jornalistas e os líderes religiosos, etc. A grande maioria destes intelectuais ajuda a divulgar ideias que possibilitam a subordinação dos trabalhadores.

Por outro lado, há os que fazem diferente: alguns artistas e diversos outros intelectuais tentam desmascarar a dominação velada que sofrem os trabalhadores. No Brasil, por exemplo, temos diversos artistas denunciando, as vezes de forma debochada, os "operários padrões" tão divulgados na nossa última ditadura. É o que vemos em diversos filmes nacionais e na música "Vai Trabalhar, Vagabundo!" de Chico Buarque. Temos também denúncias mais dramáticas, como são os casos, por exemplo, da canção "Comportamento Geral" de Gonzaguinha e "Construção" e "Deus lhe Pague" que também são de Chico Buarque.

A canção  "Working Class Hero" de John Lennon segue a linha  dramática de Chico e Gonzaguinha na denuncia da dominação sofrida pelos trabalhadores. Tirando o exagero de qualquer comparação, o  herói da classe trabalhadora de Lennon também está dopado pela religião, sexo e TV, assim como nos disse Chico em Deus lhe Pague: "(...) Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui/ O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir/ Pelo domingo que é  lindo, novela, missa e gibi/ Deus lhe pague".  Lennon termina a canção dizendo que se as pesoas querem um hérói que bastava segui-lo. Ou seja: seguir o seu exemplo, ser um herói, mas não da classe trabalhadora (os operários padrões) e, sim, apenas herói- que entendo como sendo, na canção, aquele que percebe e denuncia a dominação. Nesse momento da sua produção estética, Lennon se colocou como intelectual orgânico assim como diversas vezes o fizera Chico e Gonzaguinha. Talvez por isso, críticos severos existem de suas produções poéticas. Para aqueles, a arte não pode ser orgânica, embora sempre seja.

          O HERÓI DA CLASSE TRABALHADORA
                   
Logo que você nasce eles fazem você se sentir tão pequeno
Não dando a você nenhum tempo ao invés dele todo
Até que a dor é tão grande que você não sente nada
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Eles te machucam em casa e te batem no colégio
Eles te odeiam se é inteligente e desprezam um tolo
Até que você estar tão louco que não consegue seguir as regras deles
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Quando eles te torturaram e te machucaram por 20 estranhos anos
Então eles esperavam que você escolha uma profissão
Quando você não funciona, você está cheio de medo
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Mantém você dopado com religião, sexo e TV
E você acha que você é tão inteligente, preparado e livre
Mas você ainda é um camponês fodido pelo que eu vejo
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Existe a sala no alto onde eles falam para você até agora
Mas primeiro você precisa aprender como sorrir enquanto mata
Se você quer ser como os caras da montanha
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Se você quer ser um herói, bem, basta me seguir
Se você quer ser um herói, bem, basta me seguir 

  Working Class Hero
       (John Lennon)

As soon as you're born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate you if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and classless and free
But you're still fucking peasants as far as I can see
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
If you want to be a hero well just follow me
If you want to be a hero well just follow me

Nenhum comentário: