Amigos e/ou Leitores

domingo, 10 de outubro de 2010

Texto de Leonardo Boff Sobre o Segundo Turno e Comentários

Recebi na semana passada um artigo que fora escrito pelo filósofo Leonardo Boff com comentários sobre a Marina, o PV, o PT, Dilma, etc. Como no último dia quatro citei aqui o filósofo, resolvi postar, mesmo não concordando com tudo. Após o texto fiz alguns comentários. Este texto de Boff foi retirado do portal "CARTA MAIOR". Se não conhece o portal, o leitor pode tentar entra em contato e até se tornar seguidor deste. Acho que vale a pena. Apesar de ser meio petista, possui textos mais críticos e honestos do que os da grande mídia. No lado direito do meu blog, na seção "Vale consultar", o portal já está recomendado. É só ir lá e clicar. Sobre a política, com uma visão mais radical de esquerda , recomendo o portal  da "NOVA DEMOCRACIA", que o leitor também encontra na seção "Vale consultar".
OBS:  Recebi dois e-mails dizendo que acharam confuso esse texto de análise política ter sido postado junto com dois contos que tratam de sentimentos. Aceitando a crítica, publico aqui  separado o texto de Leonardo Boff e faço alguns comentários no final desta postagem. Inclui também uma reportagem de menos de um minuto sobre a Marina que ajuda a ilustrar o que falo sobre o PV nos comentários.


Leonardo Boff apoia aliança entre Marina e Dilma



Leonardo Boff

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?

É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas “zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do pais, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.

Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo pois sempre se atém aos ditames dos países centrais.

José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.

Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.
É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva.

Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

Antes dos comentários ao texto de Boff, é interessante assistir a esta pequena reportagem (so segundos) sobre a Marina e a sua contradição com a cúpula do PV.

                                           

Alguns comentários:


1)Creio que Leonardo Boff  foi bastante generoso com o PT na sua leitura da política. É claro que há diferenças entre o projeto deste partido e o do PSDB de Serra. O PT possui um projeto de inclusão social que o difere do PSDB, mas, no entanto, dizer que a base social do PT é o povo organizado merece algumas considerações. Assim como as populações carentes não possuem organizações de base sérias (onde estão as associações de moradores?), os sindicatos estão organizados com pouca base de sustentação. Mesmo em sindicatos com grande número de filiados é pequena a participação de suas bases. Sabemos que a nível mundial, o sindicalismo tem passado por dificuldades de representação e de participação. As bases não estão organizadas e as direções tendem a meras negociações. Talvez as excessões estejam nas organizações camponesas que, na luta contra o latifúndio, ainda conseguem organizar a massa de trabalhadores rurais do Brasil.

2)Por outro lado, como negociar com Marina se os seus votos foram tão díspares? Se, por um lado, temos a discussão moderna da ecologia e do desenvolvimento sustentado tão bem defendida pela candidata a ponto de gerar uma marola verde, temos, por outro lado, o voto conservador e até reacionário de alguns de seus eleitores que, movidos pelo medo pregado por diversas lideranças religiosas, criaram a onda inquisitória e fizeram da Dilma a bruxa da vez. Negociar com uma base social tão desarticulada e contraditória seria fazer da Marina uma liderança que ela não é. Seria respaldar o nosso velho sebastianismo, nosso velho messianismo. Antonio Conselheiro tinha uma base social coesa, Marina teve uma base social de votos diversificada e complexa: um grupo de intelectuais e jovens de classe média que adotou o discurso da ecologia e sustentabilidade; um outro grupo que nada se preocupa com sustentabilidade mas que votou nela liderado por pastores, e-mails e imprensas inescrupulosos. E um terceiro grupo que procurava uma alternativa viável para o bipartidarismo brasileiro. Acreditou que Marina seria essa via, mas se esqueceu que o PV faz parte de um polo deste bipartidarismo (o complexo PSDB-DEM-PTB-PPS-PV).

3)Esta questão também tem que ser pensada. A questão da política partidária. Marina sabe que a sua entrada no PV e a sua rápida ascensão neste partido não se deveu a sua liderança. O próprio jornalista Ricardo Noblat, do jornal de oposição O Globo, em 4/10/2010 , é quem diz: "O PV é um partido cartorial. Que cede sua legenda sem cobrar em troca o mínimo de fidelidade aos seus princípios." Só isto nos permite entender o  apoio do PV ao DEM do Rio de Janeiro de César Maia com suas obras faraônicas como o Cidade da Música  e ao PSDB de São Paulo com as suas enchentes, facilidades para montadoras de carros e engarrafamentos, apesar de 16 anos de governo tucano. Marina não tem o controle do PV, como bem demonstra a reportagem. Ela não é nem o Gabeira que fez diversas emendas para favorecer os governos tucanos em MG, SP e RS. Também não é  Sirkis, o secretário de governo do César Maia.

4)Será que Marina será controlada pelo PV e ficará imparcial no segundo turno enquanto o partido apoiará Serra? Ou ela romperá com a lógica deste partido que há muito é linha auxiliar do PSDB e que sempre se opôs ao governo Lula?  Talvez Marina tenha gostado da pequena picada da mosca azul  e se resguarde para daqui a quatro anos. Para isso terá que que correr o risco de ver, outra vez sem nada dizer, a campanha da direita usar a igreja da forma anti-ética que, creio, ela não concorda. Só que dessa vez, líderes de seu novo partido estarão apoiando o candidato beneficiado com esse canto da ema (1).

Para finalizar, creio que o voto reacionário deite em seu berço, os braços de Serra, o voto pseudomoderno caminha para os mesmos braços. Os votos que buscam uma pequena mudança social devem encontrar Dilma no caminho e o voto mais radical buscará protestar na forma do voto nulo.

(1) obs: Sobre o termo o canto da ema, veja o texto postado aqui no dia 2 de outubro.

O excelente texto "Quando o Verde é Azul" de Felipe Demier nos ajuda a compreender  as posturas do PV,PSDB e PT pode ser lido no endereço abaixo. É só clicar e ler

             http://webmail6.click21.com.br/horde/util/go.php?url=http%3A%2F%2Fwww.correiocidadania.com.br%2Fcontent%2Fview%2F5108%2F9%2F&Horde=674b99c5f41759fc908205e8a5d911f2

3 comentários:

Rodrigo Fernandes disse...

Jorge,

Há algum tempo atrás estudei seriamente o pensamento de Leonardo Boff. Cheguei a ter uma pequena biblioteca apenas com os livros do autor. Ao organizar um evento ecológico em Cabo Frio entrei em contato com ele que, infelizmente, fez uma serie de exigências impossíveis de serem satisfeitas.

Ainda o considero um pensador necessário. Seu discurso ecológico é absolutamente lúcido e bem vindo, porém, algumas ressalvas devem ser feitas ao teólogo. Primeiro a repetição de sua obra lhe tira um pouco da força. Boff tem mais de 90 (noventa) livros que tratam basicamente do mesmíssimo tema: a libertação da condição humana via a religião ou via ecologia. Apesar do tema vasto, Boff se repete um bocado, inclusive usando os mesmos conceitos, as mesmas frases, as mesmas palavras em vários livros diferentes.É uma repetição cansativa e já me fez pensar que boa parte dos livros do autor são meros caça níqueis.

Em tempo, Boff é amigo pessoal do Lula. Há poucos anos atrás era uma espécie de "guru" intelectual do presidente. Assim, é difícil ter alguma isenção crítica. De qualquer forma, repito, Boff é um pensador necessário. Sua melhor entrevista está aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=kZYaVBIRQ6k

Vale muito a pena ser assistida.

Jorge Willian da Costa Lino disse...

Dá-lhe, Rodrigo,
Como sempre os teus comentários são muito importantes e tendo a concordar com eles. Inclusive sobre tua suspeita em relação questão do mercado editorial. Mas acrescentaria que um autor-pregador, como é o caso de Boff (que conheço pouco), tem uma tendência a ficar se repetindo, em uma espécie de variação sobre o mesmo tema. Ora para ser mais profundo, ora para ser mais leve. Tirados os exageros de qualquer comparação, é como o velhor Marx, sempre a tratar da ciência, da exploração e da dominação. Só que no caso deste último as variações são realmente variações, novidades, aprofundamento de um projeto intelectual, existêncial e político.
Não creio que Boff queira a isenção. Tanto quanto Marx e Gramsci, o teólogo brasileiro faz a análise do momento através de uma perspectiva que se quer participante, que não busca a neutralidade e, sim, a realização de um projeto. É objetivo e participante ao mesmo tempo. Mas do que se colocar ao lado do amigo presidente por ser amogo, acho que ele defende o amigo por este ter se colocado, pelo menos em parte, no caminho daquilo que Boff defende como projeto.
Para finalizar, fui ver a entrevista recomendada por você. Realmente é muito boa e todos deveriam ver.É agradável e nos informa bem sobre o autor e suas ideias. Por isso vou repetir o endereço abaixo (é só copiar e colar ca barra da internet).
http://www.youtube.com/watch?v=kZYaVBIRQ6k

Anônimo disse...

Giovana disse...
Agora em relação ao texto do Boff acho que é isos ai, eu penso da seguinte forma dos 2 candidatos acho que ele tem mais "experiencia " para administrar um pais como o nosso. Por outro lado, como foi citado, durante o governo do LULA o Brasil "melhorou muito " e vivemos hj situações jamais vividas. Entretando, ainda na minha opinião nosso pais ainda tem muito o que melhorar, e temo que, ao votar na Dilma fique subentendido " ta bom do jeito que está".
E não está bom, aind atemos muito coisa para mudar, para melhorar. Por isos eu ainda me sinto insegura e indecisa por ter que escolher entre o "mais experiente" , o "melhor preparado" e aquela que, teoricamente vai continuar deixando o pais melhor do que era na epoca de FHC. Porém é tudo uma incognita, não se ele faria o mesmo que FHC fez e nem que ela vá continuar o que LULA faz.
Me sinto perdida

quinta-feira, 7 de outubro de 2010 21h50min00s BRT